• 18 de agosto de 2016

    Auto Incompetência

    – Pois é Akim, mas é complicado.

    – O que tem de complicado?

    – Daí vai que eu vou lá, estudo e tal, mas não rola de tirar a nota?

    – Qual o problema?

    – Esse!

    – Quer dizer, que você não estuda porque pode tirar uma nota ruim mesmo assim?

    – É!

    – Interessante que não te passa pela cabeça que pode tirar uma nota boa né? Afinal, geralmente quem estuda tira boas notas.

    – Ah, mas é meio relativo isso.

    – Ou talvez você queira que seja relativo… apenas para continuar usando esta desculpa para não estudar.

    – Ah sei lá, pode ser…

    Uma das principais características do adulto é assumir-se responsável pela sua sobrevivência. Porém cada vez mais as pessoas desejam fugir dessa percepção. Quais consequência isso traz para a pessoa?

    A responsabilidade pode ser muito chata em alguns momentos. Optar entre o que é importante e necessário ao invés daquilo que é simples e prazeroso nem sempre é divertido. Porém, é edificador. A conquista de competências e a consciência ampliada da realidade junto com o domínio sobre ela fazem da pessoa que busca a responsabilidade uma pessoa mais competente para sobreviver, mesmo quando isso é chato.

    A partir do momento em que se nega a responsabilidade como virtude, através de um discurso que crê que nada pode ser controlado, nega-se, também, a conquista de competências pessoais para sobreviver no mundo. Embora o mundo não seja 100% controlável, isso não implica que não existam competências que nos favorecem atuar sobre o mundo. O fato de as leis de mercado estarem mudando desde o início dos tempos não impediu as pessoas de enriquecerem, cometerem gafes e estruturarem negócios e vidas. Em outras palavras: o fato do mundo e sociedade mudarem não nos faz vítimas dele.

    O que nos faz vítimas é entender que não somos capazes de gerir nossas vidas. Esta noção é a mais perniciosa que existe, pois torna a pessoa incompetente em sua essência. Se sou incompetente, resta que o mundo deve ser o culpado (afinal de contas, alguém tem que assumir este problema).

    A auto estima se torna impossível a partir do momento em que não me percebo responsável por minha vida. Um dos componentes da auto estima é a auto confiança que, em seu nível mais fundamental, significa a confiança de sobrevivência, ou seja: me saber capaz de sobreviver. Sem isso, a base da auto estima fica minada e tudo se constrói em cima de uma base de areia.

    A consequência de que se não sou o responsável alguém deve ser, é lógica e se estabelece rapidamente tanto na prática quanto no discurso. As necessidades pessoais são vistas como uma obrigação do outro, seja esse outro o estado, o conjugue, os filhos, a sociedade ou a cultura. Alguém deve assumir o problema. Em relação ao comportamento, existe a paralisação da busca de competências, vista que me creio incapaz de criar minha sobrevivência, porque vou gastar tempo buscando competências? Elas são assumidas como inúteis e as pessoas que as tem ou as buscam são tidas como falsas (afinal de contas se é impossível controlar a própria vida o que eles querem provar?).

    Em resumo, assumir que é impossível ser responsável pela própria vida significa criar uma prisão de reclamações e incompetências. O ciclo é vicioso e quanto menos a pessoa faz por si, mais se convence de que é incapaz e mais culpabiliza o mundo. O grande problema, porém, é que como poucas pessoas são, de fato, incapazes a maior parte é um incompetente auto convencido. O esforço para manter-se incompetente quando não se é torna-se muito grande e as ações que a pessoa tem que ter para “provar” sua incompetência devem se tornar cada vez mais radicais. É aí que a coisa se torna perigosa.

     

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