• 19 de agosto de 2016

    Libertar-se

    – Não tenho me sentido bem.

    – Porque?

    – Algo está faltando.

    – O que é?

    – Ah… é que… bom. Eu tenho que fazer coisas com a minha vida, mas não faço.

    – E o que te impede?

    – Me sinto preso.

    – O que te prende?

    – Acho que é eu mesmo.

     

    O que é estar livre? O que é ser livre? O que é exercitar a liberdade?

    Em geral a palavra liberdade está colocada em oposição com a palavra prisão. Onde a pessoa que é liberta é oposto daquela que é prisioneira. No entanto, a experiência nos mostra que não estar preso é diferente de estar livre. Nelson Mandela disse que não ficou 25 anos preso, mas sim 25 anos se preparando para governarr a África do Sul.

    Outro exemplo é um filósofo romano Epicteto que nascera escravo. Ele trouxe muitas contribuições para a filosofia falando sobre a liberdade. Estranho um escravo falando de liberdade? Nem tanto. Se você entender a liberdade enquanto um direito, por exemplo, o de ir e vir, você pode achar estranho alguém privado disso dizer-se livre. Porém, se liberdade estiver ligada à questão da escolha, você terá uma pessoa liberta mesmo quando esta estiver presa.

    O que nos liberta não é um estado de direito. A liberdade está na maneira como se vive o pensar. Nem mesmo está relacionado ao que se pensa, pois assim teríamos conteúdos libertários e outros que não. Porém a liberdade é mais adequada ao exercício do que ao conteúdo ou ao próprio resultado.

    Uma pessoa livre, em minha experiência, tem sido aquela que consegue ouvir e expressar o seu próprio destino. Por destino não entendo algo divino, hierarquica e sobrenaturalmente imposto sobre alguém, mas sim o destino que é construído pelo próprio processo de desenvolvimento da pessoa. A liberdade, neste caso não é apenas uma condição da mente, mas, também – e talvez principalmente – um apelo biológico.

    A ideia parece estranha? Pode parecer. Porém se eu seguir as ideais de Damásio nas quais a mente deriva da evolução de um organismo cuja função seria uma adaptação cada vez melhor ao ambiente, posso compreender que a noção de liberdade poderia evoluir nesta mente como uma forma de justificar a sua própria necessidade de adaptar-se ao meio e às evoluções deste meio.

    Ao invés de diminuir, aos meus olhos, isso aumenta o poder da liberdade em nós. Se pensar que nossa própria biologia buscou organizar uma função na mente que lhe desse poder para entender-se enquanto capaz de realizar mudanças e potenciais latentes devo compreender o quanto isso é, biologicamente libertador.

    Para que o leitor tenha uma outra leitura, pense assim: a biologia criou o cérebro e esta estrutura fantástica criou a mente. Não é que a mente seja um produto do cérebro, mas relaciona-se com este. A função da mente é de ajudar o organismo a ter uma vida cada vez melhor. A memória, raciocínio e aquilo que chamamos de “eu” são maneiras da mente organizar-se para adaptar melhor o organismo ao mundo e dar-lhe uma vivência cada vez mais rica. Neste contexto surgiria a noção de liberdade na mente. Uma sensação que ligaria o organismo ao imenso prazer que sentimos quando nos sentimos livres, ou seja, entregues à nossa própria história biológica.

    E você, é livre?

     

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