– Mas sabe Akim… eu nunca fiz nada demais.
– Sei, é assim que você vê a sua vida.
– Eu acho que é… não consigo ver o que eu fiz para todo mundo me elogiar tanto.
– Bem, eu consigo, mas não importa se você não ver. O que será que eles vêem tanto em ti?
– Meu esposo até diz que ele admira como eu me organizo e sustento o meu ponto de vista, porque ele sabe que nas empresas, infelizmente, é difícil mulheres se destacarem, tem muito preconceito.
– Sim, e você venceu isso não é?
– Sim.
– Mas talvez isso “não seja nada” né? Nada para você se orgulhar.
– Hum…
Na psicologia de forma geral, tendemos a olhar o passado como a origem daquilo que “deu errado”, nossos traumas e frustrações. Porém, o passado também é fonte de nossas virtudes e conquistas, aprender isso é fundamental para valorizar-se, sabia?
O orgulho é uma emoção relativa ao passado, só podemos nos orgulhar daquilo que já fizemos. A gratidão e a segurança também, só me sinto seguro depois de ter atingido uma meta ou de ter aprendido uma competência. O ato da gratidão precisa ter sido praticado para que eu possa sentir-me grato por quem o fez. Se formos pensar apenas nestas três emoções fundamentais para o desenvolvimento humano, já teremos muito a ir buscar em nosso passado.
O problema é que tendemos a olhar para o que não deu certo, nossas misérias afetivas construídas ao longo de anos. Colocamos uma lente de aumento nisso e construímos nossa auto imagem e auto estima a partir disso. Assim o passado se torna referência do que nos denigre e muitas pessoas aprendem a temer suas memórias. Porém, tudo aquilo que deu certo, as competências que temos hoje, os sorrisos que demos, as ideias que colocamos em prática também estão no passado.
Otimismo ou pessimismo? Nenhum dos dois, mas sim realismo. O exercício de olhar o passado serve para que criemos conexões realistas de causa-consequência. Em outras palavras, é importante olhar para o que fiz e o que aconteceu e ver as repercussões que isso me trouxe, sejam ela boas ou ruins, não importa, o que é realmente importante é absorver, disso, aprendizado para construir meus movimentos no presente e no futuro.
A partir de uma análise realista daquilo que vivemos, podemos parar de insistir em erros repetitivos, podemos aplicar mais força naquilo que fazemos bem, nos sentir mais seguros e até mesmo construir uma auto imagem positiva tendo esperança para o futuro.
Nossa história pode ser fonte dos nossos maiores pesadelos e de nossas maiores virtudes, tudo está ligado à maneira pela qual vemos o que nos aconteceu. A tendência é que olhemos para o que deu errado e projetar isso como certeza de futuro, ou seja, o que deu errado irá se repetir. Porém não fazemos o mesmo com o que deu certo, interessante não é? As pessoas de sucesso profissional e pessoal fazem isso. Olham para o que deu certo e entendem que isso irá se repetir no futuro, gerando esperança, fé e otimismo em relação ao que virá.
Nada é certo, porém, as emoções tendem a nos fazer ter comportamentos. Quando olho para o futuro com a emoção de medo, a tendência é retração, é buscar se agarrar ao presente e temer as mudanças. Quando olho com otimismo e orgulho do que já fiz a tendência é buscar ativamente novas perspectivas. Nenhuma das duas garante nada, mas a segunda aumenta a possibilidade de novas e boas coisas acontecerem.
E se der errado? Qual o problema? E se der certo? Qual o problema? Não estamos correndo atrás de fórmulas da felicidade aqui, mas sim de saúde mental. Em ambos os casos o que teremos é conhecimento, experiência vivida e a capacidade de se sentir apto à fazer mudanças em ambos os casos. É desse tipo de atitude que precisamos correr atrás: a sensação de que somos capazes e merecedores de construir uma vida feliz.
Abraço