– Mas eu não sei… estou me sentindo meio estranho.
– Exatamente, está mesmo!
– Tenho que aceitar isso então?
– O que mais há para fazer?
– Eu nunca pensei que ia me ver desse jeito.
– Sim, isso faz parte da terapia: auto descoberta.
– Nossa, nunca pensei que seria assim.
É muito comum as pessoas buscarem o “auto conhecimento”, porém, há um pressuposto nisso que muitos esquecem: se busco pelo auto conhecimento, há, antes disso, um “auto desconhecimento”.
Desconhecer é aquilo que vem antes de conhecer. Quando o assunto é o “eu”, é importante compreender que você está embarcando em um processo de conhecer aquilo que você nem mesmo sabe que não sabe sobre você. É estranho perceber algumas coisas sobre nós mesmos, algumas vezes não queremos aceitar que fazemos o que fazemos ou os motivos que nos levam a agir assim.
Este estranhamento, em geral, surge por causa de nossa versão sobre nós. Todos temos uma historinha que contamos para saber quem somos, no processo de terapia, muitas vezes verificamos que a historinha nem sempre bate com a verdade. Daí nasce a estranheza que faz com que muitas pessoas abandonem a terapia ou resistam contra o que estão vendo tentando, desesperadamente, achar outra explicação.
Quando a pessoa encerra a terapia, provavelmente irá se defrontar com o mesmo problema em outras situações. O fato de parar a terapia não faz com que algo mude em nós. Já quando a pessoa continua, mas busca por outra conclusão, ela está, na verdade, dando um passo para trás novamente. Este passo atrás nem sempre é ruim, muitas vezes pode ser um movimento de proteção contra o choque que a percepção nova de si mesmo causou.
Porém, outras vezes isso acaba se tornando tema de terapia. A pessoa busca por uma, duas, três ou mais explicações. Simplesmente não aceita que a percepção à qual chegou possa ser verdadeira. Na verdade ela não consegue conceber uma nova versão de si mesma que não combine com a antiga. A estranheza é muito difícil de aceitar, porém, necessária. Sentir-se estranho consigo mesmo não é apenas normal, como comum quando as pessoas ousam ir além de seus limites mentais e emocionais.
Acostumar-se à algo que achamos estranho em nós mesmos pode ser uma tarefa dura. Para isso é importante lembrar que ver algo que consideramos estranho não vai nos causar dano. Aquilo que é monstruoso em um primeiro momento, geralmente, é a chave que abre novas formas de existência. Em geral, é naquilo que negamos com mais veemência que está a nossa salvação. Assim, se você sentir algo estranho em você, pare e preste atenção: esse monstrinho pode estar com boas intenções.
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