– Eu não entendo quando dizem que eu sou rígido.
– O que você não entende sobre isso?
– Eu me acho flexível… falo com as pessoas e penso no que elas me dizem.
– Entendo, o que será que as pessoas veem em você para te chamarem de rígido?
– Não sei Akim, não consigo perceber isso.
– Já não é a primeira vez que você reclama disso né?
– Não, faz anos já que me falam e eu não entendo, não consigo perceber.
– Talvez tenha algo aí que você não esteja querendo ver não é?
Você ou as pessoas próximas à você te consideram uma pessoa rígida e inflexível? Se sim, o que, de fato, faz com que você seja percebido dessa forma?
Em primeiro lugar é importante deixar claro que “rígido” e metódico” são qualidades diferentes. O primeiro tem a ver com a uma baixa quantidade – e por vezes qualidade – de recursos comportamentais, psíquicos e emocionais para lidar com a vida. O segundo tem a ver com seguir um determinado padrão à risca, porém a pessoa pode ter uma gama ampla de padrões para seguir. Ser metódico e rígido é possível sendo que a pessoa combina o comportamento de seguir à risca seus procedimentos com o fato de ser limitado no número de procedimentos. Esses são aspectos comportamentais da pessoa.
A rigidez pressopõe a falta de opções muitas vezes auto gerada pelo medo de abrir-se à novas experiências ou de falhar na tentativa de gerir novas experiências. Dessa maneira é interessante notar que a pessoa inflexível que sempre faz tudo à sua maneira e se fecha “fazendo beiço” quando alguém propõe algo diferente pode ser tão rígida quanto uma pessoa super aberta que nunca se manifesta com precisão e está sempre tentando coisas novas sem nunca ater-se à nenhuma delas, um eterno experimentador. Qual a semelhança entre estas duas figuras?
Ambas tem recursos limitados. Mas, você pode objetar, a pessoa “aberta” aprende coisas novas. Sim, porém existe uma diferença entre a cópia e experimentação descompromissada e o aprendizado que organiza um posicionamento frente à vida. Traduzindo: alguém que passa por muitas experiências pode ser “simplesmente isso”, uma pessoa que passou por várias experiências. Isso não a compromete com um aprendizado e pode mantê-la longe de se posicionar enquanto ser humano. Muitas vezes esta atitude de não se posicionar advém do medo de se expor, exatamente como no caso do “beiçudo” rígido que não gosta de novidades. Ambos não se abrem ao novo, um fechando-se à ele e o outro estando dentro de uma maneira descompromissada.
O primeiro tipo de rígido é muito conhecido e “fácil” de ser percebido, já o segundo é mais complicado pelo preconceito e falta de conhecimento que temos sobre o que, de fato, é a rigidez. Ela não tem a ver com o comportamento em si, mas sim, com os motivadores do comportamento e com o tipo de resultado que ele proporciona. Uma pessoa que faz algo da mesma forma sempre pode facilmente ser convicta e muito saudável ao invés de rígida, enquanto alguém que faz um monte de coisas diferentes sempre pode simplesmente ser alguém que não se conhece o suficiente à ponto de conseguir dizer para si o que quer da vida e se comprometer.
A rigidez, de forma geral, esconde medo, culpa ou vergonha em posicionar-se. Isso faz com que a pessoa aprenda poucas formas de fazer isso, o “rígido clássico” é a pessoa que se apega ferozmente à uma rotina e o seu extremo é aquele que se apega à mudança constante, mas ambos não conseguem ir além disso. A questão com a rigidez não tem a ver, especificamente, com mudar a rotina, mas sim com mudar a maneira de ver a falha e o compromisso. Comprometer-se é algo complicado para o rígido, por isso sua necessidade em ter poucas opções.
Abrir-se, no caso dele, é aprender uma maneira de sentir-se bem em se expor. A experimentação deve ser uma atividade que nasce do desejo e que possui uma meta ou uma identificação, se for um comportamento apenas pelo comportamento é tão prejudicial quanto o isolamento. O rígido aprende a se abrir na medida em que suaviza e relaxa a sua ansiedade de existir. Ele não precisa mais se mostrar, pode, simplesmente, ser. Nesse momento é que a espontaneidade natural e saudável nasce nele e é disso que precisa (ao mesmo tempo de ser o que teme).
E aí, você é rígido?
Abraço
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