– Pois é Akim… eu entendi o que eu fiz.
– O que foi que fez?
– Simples: eu estava entediado e resolvi jogar isso em cima da minha namorada.
– Sim, me parece que foi exatamente isso, como se sente?
– Bem em ter percebido isso rapidamente, e triste em ter que ter feito isso dessa maneira.
– Perfeito. Poderia lidar com isso de outra forma?
– Claro, mas me parece que eu queria ferir ela, como se a considerasse culpada disso entende?
– Sim, você acha, de fato, que ela é culpada?
– Óbvio que não, essa é a minha infantilidade né?
– Sim.
Exercer a reflexão sobre um tema é sempre uma tarefa que denota tempo e energia, nem sempre chegando a resultados muito agradáveis. Quando a reflexão é sobre nossa identidade, comportamento e emoções o exercício pode exigir ainda mais de nós, porque se dar ao trabalho?
A pergunta acima é apenas uma pegadinha. Este artigo não visa convencer uma pessoa que não deseja realizar um processo de reflexão pessoal a realizar um, mas sim enaltecer algumas virtudes que aqueles que se dispõe ao trabalho possuem ou (na maior parte dos casos) adquirem.
O exercício da reflexão, como já apontei, nada tem de popular, pois uma vez que se entra em uma “reflexão honesta” (e não aquela que apenas afirma os ponto que você “já sabia inicialmente), nem sempre nos acalentamos, pelo contrário, muitas vezes o ato de refletir traz mais problemas do que soluções. Assim, esta é uma das primeiras virtudes que a pessoa disposta precisa ter ou desenvolver: resiliência.
A força, como todos sabem, não é dada à princípio, mas adquirida ao longo de muito esforço. A reflexão sobre nós é um dos exercício que ajuda a elaborar a força no sentido psicológico. Perceber as motivações que temos sobre determinados comportamentos, por exemplo, nem sempre se trata de uma experiência agradável, porém, ao mesmo tempo, ela é elucidativa e poderá nos ajudar a exercer melhores escolhas.
A disposição de, como tenho dito recentemente, “enfrentar o monstro” (aquele que existe em nós), não é uma tarefa para qualquer um. Aqueles com o ego inflado demais para suportar a presença de uma mancha não conseguem ir adiante. Se a pessoa também necessita sentir-se sempre “forte” e/ou “produtiva” a terapia também poderá causar muitas frustrações. Afinal de contas é somente no ato de refletir sobre nossa estrutura que poderemos ver suas rachaduras e, nesse momento, vamos perceber nossa fraqueza.
Assim sendo, existe boa dose de coragem na pessoa que se coloca como objeto de sua própria análise. Esta coragem, é evidenciada em sua proposta de abrir para si e para terceiros elementos que ela própria não deseja abrir, mas percebe necessário. A necessidade desta abertura pode advir de vários motivos desde os mais óbvios como o caso de uma depressão até os mais “singelos” (minha esposa/professor, disse que eu precisava). No entanto, o ato de realizar a busca deve sempre ser observado e valorizado positivamente.
O que se desenvolve em terapia é a capacidade de suportar informações contraditórias sobre nós mesmos. Longe de ser um exercício de tortura é, antes, a elevação da capacidade de se compreender de uma maneira mais ampla. Em geral nossas visões tendem a ser restritas àquilo que queremos crer, o processo de reflexão (honesta, como já disse) coloca em cheque estas crenças e tende a ser a prova, não do argumento, mas de nossa capacidade de argumentar.
Suportar o fato de que desejo o bem, mas sinto prazer com alguma destruição e mal que possa causar à alguém, por exemplo. Um tema de certa maneira comum em terapia, ao mesmo tempo muito fortalecedor quando a pessoa consegue integrar nela estes dois aspectos tão distantes (e, por esta mesma razão complementares). Conseguir integrar partes tão distintas do nosso eu e ainda desenvolver uma vida boa é o que ganha a pessoa que estabelece sua força pessoas nos termos da auto reflexão. Como costumo dizer: terapia é um exercício que nos faz mais responsáveis.
Abraço