• 14 de novembro de 2016

    O meu e o teu

    – Foi boa a última sessão

    – Que bom, o que teve de bom nela?

    – No dia eu levei como um puxão de orelha…

    – E foi…

    – … mas depois eu vi que você tinha razão. Eu tenho que cuidar melhor de mim.

    – Sim, como fez isso?

    – Bem, parei de me enrolar e comecei logo a fazer várias coisas que estavam paradas…

    – O que fazia elas estarem paradas de fato?

    – Eu não estar fazendo…

    – Que bom que viu isso.

    – Sim, eu tenho que parar de esperar o mundo se ajeitar para mim e me ajeitar para o mundo.

     

    Onde está a solução do seu problema? Em algo que se norteia pelo seu comportamento? Se sim, ótimo, provavelmente você se dará bem, se não, que a sorte lhe sorria.

    Boa parte das pessoas que procuram terapia, lá no fundo, desejam uma coisa de seu terapeuta: a concordância com suas queixas. O desejo é que alguém diga que ele está certo, que o problema são os outros (e/ou o mundo) e com isso, eximi-lo da responsabilidade sobre sua neurose. Se o terapeuta puder assumir e resolver o problema por ele, tanto melhor.

    Isso tudo também acontece com nossas famílias e parceiros conjugais. Há um desejo profundo de que esta ou estas pessoas sejam aquelas que vão tornar a minha vida infinita e indefinidamente feliz. O desejo e a responsabilidade passam completamente para a mão de terceiros e nos percebemos impotentes diante de nossos problemas cotidianos.

    Este desejo contém um pouco de fantasia infantil sobre o poder que as outras pessoas tem. Também contém um pouco de dependência em se “curvar” diante deste poder. Com isso, as pessoas esquecem de que há poder nelas em relação ao que reclamam do outro. Não se trata de dizer que você tudo pode, mas sim de localizar onde estão seus problemas e soluções. A reclamação de nada adianta quando a solução está localizada no seu comportamento.

    Aprender a agir nos traz benefícios práticos (quando resolvemos nossos problemas), psicológicos (ao compreendermos que somos capazes) e emocionais (aumento de auto estima). A busca por soluções nos motiva, alguns, inclusive, são auto motivados por isso. O  desejo em aprender significa a saída da zona de dependência. A pessoa que não quer aprender aquilo que não sabe e lhe é importante torna-se dependente por incompetência. Esta, seja no campo prático ou emocional é muito prejudicial.

    O comportamento adulto deste tipo de dependência é o da pessoa que sempre reclama dos outros, necessita de aprovação o tempo todo ao mesmo tempo que esconde suas necessidades reais. Porque esconde? Pelo fato de não querer deixar claro para o outro (e para si) a sua própria dependência. Depender dá poder ao outro e é melhor que o outro tenha este poder, mas não saiba que o tem.

    O problema é que isso apenas gera mais infortúnios. Uma vez que as reais necessidades de uma pessoa não são colocadas na relação de maneira clara, a possibilidade do outro não atender essas necessidades apenas aumenta. O mesmo vale para fazer algo inadequado ou ainda contrário. O medo assume um pano de fundo da relação e toda ação será julgada com base nesta emoção que não é a mais adequada para isso.

    Assim, é importante diferenciar aquilo que é seu daquilo que é do outro. É sua a necessidade de se cuidar, do outro é o desejo de ser seu parceiro ou não nisso. É sua a necessidade de sustentar-se, os outros podem ou não desejar ajudar você com isso. É sua a necessidade de criar uma boa auto estima, os outros… bem, nesse caso os outros nada tem a ver com isso. Sua auto estima é sua e somente sua.

    Abraço

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