– Tenho estado desanimado.
– Com o que?
– Não sei… acho que com tudo um pouco.
– Sei.
– Não sinto como se nada tivesse sentido.
– Nada ou nada que você faz?
– Acho que o segundo…
– Me parece que está meio vazio aí dentro então é?
– Sim…
Muitas pessoas sofrem de solidão. O mudo atual é um cenário perfeito para a existência epidêmica desta emoção. Porém, não parece interessante que em era de redes sociais tantas pessoas sintam-se sós?
Depende de como você encara a emoção “solidão” e quais os estímulos que você associa à ela. Se solidão, para você, resumir-se em ter conversas com pessoas, então a era das redes sociais é uma panaceia contra a solidão e a pessoa apenas sentirá esta emoção se ela não tiver acesso à internet ou se for tola. Porém, se sua compreensão da emoção for um pouco mais profunda, verá que uma simples conversa pelo face ou whats não resolve a solidão completamente.
Porque não? Em primeiro lugar porque a solidão possui duas fontes básicas e distintas, a primeira delas versa, de fato sobre contato com outras pessoas. Nesta versão da solidão a “cura” reside em buscar seus contatos e interagir. Já a segunda versão desta emoção fala sobre um vazio pessoal, o que chamo em consultório de solidão de eu mesmo. É o famoso “estar sozinho na multidão”, para esta versão o contato com um bate papo simples não ajuda.
Na primeira versão, no entanto, o contato social de bate papo leva até um determinado limite. Trata-se aqui de quão profunda suas conversas precisam ser. Pessoas reflexivas, por exemplo, se desanimam cercadas de pessoas superficiais. O mero contato com outros seres humanos não “cura” a solidão porque ela não se trata apenas do contato, mas da qualidade do contato. Nesse aspecto as redes sociais falham ao proporcionarem apenas um nível do contato.
Em segundo lugar, quando temos o contato virtual com as pessoas, uma série de elementos como calor, cheiro e tom de voz (o timbre de uma pessoa é impossível de ficar 100% igual através de auto falantes) ficam de fora. Para muitas pessoas o contato real é necessário para curar a solidão visto que no contato existem inúmeras informações que não se fazem disponíveis nas redes.
Para a segunda versão da solidão, porém, as redes podem atrapalhar o contato. O segundo tipo é mais profundo visto que o mero contato e interação com outros humanos não “cura” a solidão. Pelo contrário o contato que se faz necessário neste caso é interno e não externo. Em outras palavras, a pessoa precisa entrar em contato com ela e com suas dúvidas e desejos para “curar” a solidão que sente de si.
O só no meio da multidão retrata a pessoa que não está conseguindo criar contato e sentido. Essa incapacidade (momentânea) se faz por causa de uma ausência de conhecimento a respeito de suas prioridades, negação ou mudança das mesmas. A pessoa que se sente assim não precisa do contato de outros embora sinta, muitas vezes, esse desejo como maneira de colocar no outro a responsabilidade para ajudá-la a se reerguer. Por mais que existam outras pessoas apoiando você, quando sua falta de motivação para o contato é causada por uma inconsciência de seus desejos, nenhuma pessoa no mundo pode “curar” sua solidão. Só você.
Assim, encerro dizendo que nessa era de rede social a grande questão é, novamente, como aproveitamos elas. Muitas pessoas lucram no sentido afetivo das redes, e considero-as importantes, em muitos casos o primeiro canal de acesso de algumas pessoas ao contato com outros seres humanos. Porém considero inadequado manter-se apenas nelas por comodismo, preguiça ou medo de buscar contatos mais reais e menos virtuais. E a solidão sempre se cura com o contato.
Abraço