Tememos a vulnerabilidade, a capacidade de estar exposto à terceiros e poder ser prejudicado por isso. Embora aprender a se defender seja necessário, será tornar-se invulnerável seria o caminho mais adequado?
O que posso afirmar do ponto de vista do atendimento à meus clientes e de minha experiência pessoal é que existem alguns problemas quando buscamos a invulnerabilidade que dificilmente podem ser colocados do lado positivo quando fazemos um balanço entre prós e contras em relação à ser ou não vulnerável e saber-se assim.
“Foi quando entendi que havia toda uma vida por trás das coisas… e essa incrível força benevolente, que me dizia não haver razão para ter medo. Em vídeo não é a mesma coisa, eu sei. Mas me ajuda a lembrar. Eu preciso lembrar. Às vezes, há tanta beleza,no mundo. Que quase que não consigo suportar. E meu coração parece que vai desmoronar…” Estas palavras, extraídas do filme “Beleza Americana” revelam um sentimento profundo de seu proferidor em relação à observação do mundo. Sua capacidade em perceber a beleza em elementos simples revela sua sensibilidade.
Um dos pontos que sempre noto em relação à vulnerabilidade é que, em geral, ela nasce da sensibilidade. Dificilmente você perceberá alguém muito truculento sentindo-se vulnerável. Outra característica peculiar é de que a vulnerabilidade carrega algo de belo junto com ela. Geralmente a pessoa sensível consegue atentar para os detalhes que existem no objeto de observação. A percepção desses detalhes revela um olhar mais profundo e mais atento que é, exatamente, a qualidade maior da sensibilidade.
Dessa forma, buscar tornar-se invulnerável, também significa perder a atenção ao detalhe, perder a sutileza que a pessoa sensível – e vulnerável – detém. Esta perda quase sempre traz consigo prejuízos (salvo casos em que a sensibilidade é organizada de maneira neurótica tornando a pessoa mais sensível que o necessário a determinados estímulos, algo como uma “alergia psíquica). Nestes prejuízos, pode estar incluso a perda total ou parcial da personalidade da pessoa ou de características que fazem dela especial.
Perder a vulnerabilidade é, portanto, a perda da sensibilidade. Quanto menos sensível, mais invulnerável. Porém, quanto menos sensível, menos o mundo assume graça e cor. De forma interessante é a invulnerabilidade tão buscada em nossa sociedade contemporânea a maior precursora da depressão. Quanto menos graça o mundo tem (porque ele me atinge cada vez menos), maior o sentimento de falta de significado ele assume (assim como a minha existência também tende a perder significado: se vivo em um mundo sem sentido, porque vivo?)
No entanto, a vulnerabilidade exige certo esforço no sentido de sustentar a própria fragilidade. Aprender a se defender sem se calar ou sem matar a sensibilidade exige esforço. A compreensão de que os outros podem exercer críticas, bloquear seu caminho ou tentar sabotar você é necessária para se manter a fragilidade viva. Compreender que isso faz parte da natureza humana e do mundo ao invés de compreender que há algum problema com a sua fragilidade é essencial.
Por fim, a imagem do dente de leão que coloquei no início deste post, talvez ilustre bem este ponto. A fragilidade da flor é exatamente sua força. O desejo de vermos os dentes de leão voando, belos e frágeis pelo céu no motiva a soprá-lo e é exatamente isso que faz o dente de leão se reproduzir. A vida nasce da fragilidade e tem nisso a sua característica mais bela e mais trágica, porém sem ela não temos vida.
Abraço