• 26 de dezembro de 2016

    O mito da auto confiança

    – Mas eu não posso ficar confiando assim…

    – Não entendi, porque não pode confiar em algo que sabe fazer?

    – E se tiver uma situação que eu não saiba?

    – Qual o problema?

    – Se eu não souber, não posso confiar posso?

    – Se uma criança aprender a somar dois mais dois, isso significa que ela está apta a fazer todas as operações de soma que existem?

    – Não, nada a ver.

    – Pois é… você tem uma competência, isso significa que você é capaz de resolver todo e qualquer problema que a envolva?

    – Hum… não.

    – Porém, no caso da criança, por não saber realizar todas as operações de soma, isso significa que ela não pode confiar na competência que tem em somar dois mais dois?

    – Não… isso ela sabe.

    – Ah!

     

    A sociedade em que vivemos deturpa, cada vez mais infelizmente, alguns conceitos fundamentais para uma boa saúde. A confiança é um deles. Criou-se um mito em relação à ela e esse post pretende desmistificar alguns.

    Confiança não significa infalibilidade. Essa ideia é um dos principais mitos que estabelecemos sobre a confiança. Traduz-se no mote: “confie em você e poderá tudo”. Mera ilusão, nem mesmo a pessoa mais confiante do mundo poderá tudo. Quem pode tudo é onipotente e o ser humano está longe desta realidade. Confiança tem a ver com saber do que você é capaz. É encarar os limites ao invés de tirá-los da frente. “Sou capaz daquilo que sou capaz”, esse sim é um mote verdadeiro e útil.

    Outro mito é que a confiança faz as pessoas fazerem coisas. Isso é o que escuto no consultório: “se eu fosse confiante, eu faria…” e então as pessoas complementam com aquilo que não conseguem fazer. A confiança é uma emoção de passado. Em outras palavras, só posso sentir-me confiante sobre o que já sei e não sobre o que ainda não sei. A sensação adequada de “sentir confiança” em relação ao futuro é “esperançoso”. A confiança é um produto de suas ações e não um causador delas.

    Em relação à estes dois mitos, é importante compreender como a confiança funciona de fato. Ela é baseada nas experiências que temos. Sentir confiança é aprender a executar algo. Compreender a dinâmica de funcionamento de um determinado problema e aprender a agir sobre ele com muita probabilidade em assegurar-se de resultados. A confiança, portanto, nasce do esforço para compreender e promover ações com resultados no mundo. Repito: confiança requer esforço.

    A partir do momento em que compreendo como funciona o mundo, aprendo a interferir nele, sou bem sucedido e passo a conseguir realizar previsões que também se mostram certeiras, passo a confiar em minha percepção e ação. É somente com isso que a confiança verdadeira se estabelece. Confiar, como já disse, não significa ser certo o tempo todo. Como já demonstrei, a confiança é o resultado de um processo, logo, quem é confiante erra e mais interessante: confia no erro.

    Como assim “confiar no erro”? O erro é tido pela pessoa confiante como aprendizado. Ela não sucumbe frente ao erro porque sabe que é capaz de errar. Ela já errou antes enquanto aprendia a fazer outras coisas, então porque se abalar ao errar aprendendo algo novo? E se ela errar em algo que já conhece, irá se intrigar, pois compreenderá que tem algo além daquilo que ela já sabe se mostrando para ela. A única exceção é o erro por negligência.

    Por fim, a pessoa confiante, passa a compreender que ela precisa aprender. Essa se torna sua maior arma. Aquele que não conhece algo, mas mesmo assim sente-se confiante é, nada mais, do que a pessoa que tem plena convicção sobre sua capacidade de aprender. Novamente, resultado de esforço e confiança em algo que a pessoa cria e exercita. Confiar em aprendizagem é, para mim, o fundamento de uma boa confiança.

    Abraço

    Comentários
    Compartilhe: