– Agora eu entendi.
– Entendeu?
– Sim, vendo dessa forma, dá para entender o porque eu sou desse jeito.
– Me explique.
– Ah, se eu tive poucas demonstrações de afeto é normal que eu seja mais fria.
– Isso explica o caso de certa forma sim.
– Então é normal eu ser assim.
– “Normal”, sim. Porém o que você quer com isso? Afinal, me parece que você tem problemas com este jeito de ser.
– Bem… o que eu posso fazer… a minha história me trouxe até aqui.
– Sim e para onde você vai levar a sua história?
Muitas pessoas, ao procurarem terapia, desejam justificar seus comportamentos. Existe uma diferença importante entre justificar e explicar. A primeira busca eximir a pessoa da responsabilidade pelo comportamento, a segunda não.
Explicar um comportamento significa observar os elementos que o constituem, compreender a motivação que origina o comportamento e sua funcionalidade. Também envolve compreender isso dentro da perspectiva da personalidade da pessoa e como esse comportamento ou característica compõe as relações sociais da pessoa. A explicação visa, acima de tudo, a possibilidade de intervir no comportamento.
Justificar é outra história. Quando a pessoa busca uma “explicação” com o intuito secreto de justificar seu comportamento, o que quer, na realidade é uma “desculpa profissional” para se manter fazendo o que faz. Há uma diferença na pessoa que quer justificar e naquela que deseja justificar seu comportamento. Em geral, quando “entendem” seu comportamento, as pessoas que querem explicar pensam em o que fazer com isso, já aquelas que buscam justificar dizem “tá vendo? por isso que sou assim, não tem jeito mesmo”.
O desejo de quem quer justificar-se é que o seu comportamento não seja modificado. Não desejam ser questionados, mas sim mimados. É o desejo secreto de dizer para o mundo: “estão vendo, eu tenho direito de ser assim e vocês tem que se adaptar ao que eu sou”. Elas não levam em consideração a sua contribuição para a construção de seu próprio comportamento e nem que a responsabilidade pelos resultados que o comportamento traz são delas.
Assim, é importante ajudar a pessoa e compreender essa diferença. Ajudá-la a perceber o desejo secreto de manter-se tal como está e culpabilizar o mundo por não se adaptar à ela é fundamental para o exercício de uma boa terapia. O mesmo vale para a construção da noção de responsabilidade pelo próprio comportamento e história pessoal. Há uma frase existencialista que gosto muito: “o que vou fazer com o que fizeram de mim?” Sempre coloco isso para os clientes que querem justificar seu comportamento.
Aqui, porém, retorno para o primeiro parágrafo deste post para esclarecer a palavra “intervir” sobre o comportamento. A palavra intervir, no contexto psicoterápico tem vários significados. Tudo começa com a aceitação. costumo dizer que nenhum comportamento ou característica é “ruim” ou “nociva” por si só. Em geral, elas são usadas de maneira inadequada, mas podem ser reenquadradas e bem utilizadas pela pessoa.
Desta forma, intervenção pode ser desde a aceitação da característica, novos empregos da mesma (usá-la em contextos mais adequados), mudanças na maneira de usar as características, aquisição de novas características para complementar e, até mesmo, a percepção de que não há, de fato, o desejo de mudança. Intervir, então significa, de forma geral, assumir a responsabilidade pelo que se faz e pelas consequências dessa ação. Por fim, muitas vezes temos que, simplesmente ajudar a pessoa a compreender que ela não dá conta, naquele momento, de fazer isso. Assumir que não consigo assumir a responsabilidade pode ser já muito terapêutico.