– Estava em uma discussão com meu esposo e foi muito interessante.
– O que foi interessante?
– Logo no começo da discussão eu me disse: “não brigue, converse”.
– Perfeito.
– E daí vi que ele estava querendo brigar.
– Sim.
– E vi, nele, exatamente o que eu vi, aqui, que fazia quando estava discutindo com ele.
– Entendi, você viu o seu comportamento espelhado no dele?
– Sim, isso mesmo
Os outros podem ser o inferno como desejava Sartre, porém, também podem ser nosso espelho. Nesse caso, o inferno somos nós, espelhados nos outros.
Perceber nosso comportamento espelhado no comportamento de outra pessoa, em geral, é uma ação que ocorre após termos consciência de nossa situação. Praticamente todos as pessoas que fazem terapia atingem este estado de percepção. Compreender isso como uma tendência do comportamento humano é incômodo, mas ao mesmo tempo revelador.
Entender que é uma tendência das pessoas observarem seus pares e perceberem neles o próprio comportamento significa afirmar que aquilo que reclamamos dos outros é, na verdade, a mesma coisa que nós fazemos. Em outras palavras, ao reclamar de terceiros, estamos reclamando de nós. Diz o ditado que a mão que aponta para o outro tem três dedos que apontam novamente para nós.
Chamamos isso de espelho. Perceber no outro o reflexo de nossas angústias e comportamentos. Esta atitude porém, não revela apenas nossa arrogância, abre espaço para a empatia. Ao perceber no outro aquilo que fazemos, também podemos compreender que os motivos podem ser próximos aos nossos. Em outras palavras, o medo da rejeição que me faz calar pode ser empático com a frieza de meu conjugue que nada diz, por medo de se magoar.
Não se trata de uma atitude de compensação: se ele faz o que eu faço, então tudo bem. Mas sim, de compreensão de uma condição na qual duas ou mais pessoas se encontram e da possibilidade de criar novas dinâmicas mediante a empatia. Quando é possível à duas pessoas criarem sintonia a partir daquilo que temem, abre-se a oportunidade para que estas mesmas pessoas escolham não se ferir e nem ferir o outro. Desse ponto nasce o respeito genuíno.
Assim espelhar-se não significa o alívio pelo fato de estar mais consciente daquilo que você faz. O entendimento é de responsabilidade em ter o conhecimento de sua própria dinâmica e percebê-la em outra pessoa. Quando o reflexo do outro nos toca a alma, é importante agradecermos ao invés de nos vangloriarmos. Isso deve ser feito com parcimônia, novamente: não se trata de compensação, mas de compreensão e mudança.
Se o comportamento do outro é o meu, sua dor pode ser a minha. Se isso se verifica, a mudança do outro pode ser a minha. Mas no espelho, apenas um dos lados cria o movimento. Este lado é o que vê, logo é dele a responsabilidade em gerar reflexos novos. Espelhar-se mostra que você, agora é capaz de criar o novo.
Abraço
- Tags:Akim Rohula Neto, Amor próprio, Auto-imagem, confrontar, Mudança, Opinião do outro, Papel na relação, Psicoterapia