– Mas Akim, como que eu ia ficar quieto?
– Não que você devesse, mas qual o problema com isso?
– Ah… não dá! A pessoa fala alguma coisa idiota, eu tenho que falar né?
– O que te motiva a se dar essa obrigação?
– Mas não é obrigação!
– É. Quando você diz que “tem que” é uma obrigação.
– Se eu não falo? Guardo para mim o que eu penso? Como fica a sinceridade nisso?
– Qual o problema com a sinceridade?
– Não estou sendo sincero se eu não falar nada.
– Não está sendo sincero ou não está se posicionando?
– E tem diferença?
– Sim, não é falta de sinceridade não dizer o que pensa quando não se é convidado para isso. Saber quando se posicionar e de que maneira são virtudes.
– Hum… não sei não.
“Seja o primeiro a opinar”. Na era da opinião, o mais importante é falar antes e não pensar no que está falando. Porém sinceridade não tem a ver com a exposição da opinião e sim com a honestidade dela.
Muitas pessoas confundem a resposta de colocar sua opinião na mesa com sinceridade. Em geral, o verdadeiro problema está localizado na incapacidade da pessoa em conter seus impulsos e não na falta de sinceridade. A sinceridade se manifesta quando dizemos aquilo que realmente pensamos sobre determinado tema, pessoa ou situação. Porém, a sinceridade não implica em “ter que” manifestar sua opinião toda vez que você se percebe contrariado.
A contrariedade é o grande tema das pessoas que “não conseguem” deixar de emitir a sua opinião. Sustentar a tensão interna de que o mundo possa ter pensamentos diversos é o verdadeiro desafio para este tipo de pessoa. Ela vê em ideias diferentes perigo, por este motivo (na maior parte dos casos) precisa intervir e “ser sincero” (ou mais precisamente, meter o bedelho).
Um dos exercícios mais difíceis que gosto de oferecer para as pessoas com este tipo de comportamento é conhecer o ponto de vista de outra pessoa. A tarefa é perguntar e tentar compreender melhor o que pensa o outro ao invés de “colocar a sua opinião”. Isso é muito difícil porque, geralmente este tipo de “sinceridade” não quer expor o que pensa, mas sim, convencer os outros.
É comum ouvir em consultório as objeções: mas se eu ficar perguntando, vou estar cedendo terreno para o outro; ou: mas eu não vou ser eu mesmo se ficar perguntando, eu preciso expressar o que penso. Estas objeções giram em torno de um eixo central: o medo de perder sua identidade. Assim sendo quem tem que falar aquilo que pensa, em geral, precisa, na verdade, dar-se um lugar na fala do outro.
Note que estou falando daquelas pessoas que tem o comportamento de “precisar” falar. É diferente quando sei o momento de me posicionar em uma discussão e quando preciso, quase que sempre falar o que penso. O fato é que nem sempre as pessoas estão discutindo ou ligando para a opinião das outras. Saber reconhecer quando um tema está, de fato, sendo debatido e quando alguém está simplesmente expondo o que pensa é a diferença de percepção entre quem “tem que falar” e quem sabe quando falar.
A necessidade de encontrar um lugar tem relação com não conseguir suportar a ambiguidade do mundo. Assim sendo se alguém pensa diferente de mim, preciso colocar minha posição para fora afim de garantir meu lugar. É o medo e não a sinceridade o que motiva o comportamento. Por este motivo digo que não é necessário dizer tudo o que pensa, como diz o ditado: “quem muito fala, por vezes não tem o que dizer”.
Abraço