– Mas eu sei que não tem problema isso.
– Claro que não, mas é o que você sente?
– Bem… de verdade não.
– Então, para você, tem problema. Acho que o que acontece é que você gostaria de não sentir isso como um problema.
– É verdade.
– Você se sente culpado com o que fez?
– Sim.
– E consegue sentir-se culpado ou tenta se safar dessa emoção?
– Tento me safar…
Arrependimento e culpa são emoções difíceis de serem sentidas. Porém é necessário sentir a emoção para conseguir tratá-la de maneira adequada. A tentativa da fuga da emoção pode causar problemas de difícil solução.
Porque sentir culpa? Em primeiro lugar porque se você está sentindo isso é melhor encarar de frente. A culpa não é nociva por si só. Este sentimento envolve nossas concepções morais sobre certo e errado. Assim, sentir culpa pode ser, simplesmente, a constatação de que tivemos um comportamento que julgamos inadequado, não consigo ver porque seria errado sentir isso.
A culpa é nociva quando está ligada a valores que a pessoa não segue verdadeiramente ou que sejam inadequados para ela. Além disso o cultivo da culpa também não é uma atitude adequada. Nesse sentido, é o cultivo da culpa e não a emoção em si que é problemática.
Fugir da emoção da culpa, em geral, coloca a pessoa no dilema explicação-justificativa. Buscar uma “saída” para a fuga é tentar criar um argumento que valide nosso comportamento. Em outras palavras é trocar de opinião “rapidinho” para se sentir melhor. Porém não se muda uma percepção de forma tão rápida e a pessoa termina tendo um argumento que justifica seu comportamento e sentindo culpa do mesmo jeito o que deixa, além de culpada, confusa.
É importante compreender que há uma diferença entre justificar e explicar. Muitos argumentos podem explicar um comportamento, mas não o justificam. Dirigir bêbado pode explicar o que levou um motorista à bater o carro em uma casa, mas não justifica, ou seja, não o exime da culpa.
Sentir culpa é se deparar com seu próprio sistema moral. A maior parte das pessoas que tem problemas com a culpa, na verdade possuem problemas em errar. Elas não aceitam uma versão delas com “falhas”, sendo assim, terminam por fugir da possibilidade de registrarem um erro. O primeiro passo é saber que todos erramos, por isso a culpa existe.
Aceitar que fizemos o que fizemos de maneira consciente é fundamental. Entender que o ato implica em algo que condenamos também. Nesse sentido, entra a ambiguidade: como pude fazer algo que não acredito? Como pude agir contra minha percepção? Essas perguntas são importantes para verificar se você quer ou não manter suas antigas convicções e, a partir disso arrepender-se ou aprender a viver um novo estilo de vida.
O arrependimento foca em reconhecer o erro, compreender as motivações ligadas ao fato e comprometer-se em não repetir o ato. Esse conjunto só se cria quando a pessoa aceita e sente a emoção da culpa. Sem isso, ela tenta negar o que fez, os motivos que a levaram ao que fez e isso apenas cria o cenário ideal para a repetição da atitude.
Abraço
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