• 26 de maio de 2017

    Ser adulto: prazer x responsabilidade

    – Mas e porque você não quer sair de casa?

    – Ah, daí eu vou deixar de ter o meu dinheiro só para mim né?

    – Vai? Porque?

    – Ah, porque daí vou ter que pagar conta né?

    – Hum… e?

    – E? E daí que vou ter que pagar as contas oras.

    – E que parte de você é “as contas”?

    – Como assim?

    – Ora, você não quer ser independente?

    – Sim.

    – Independente sem pagar contas?

    – Hum…

     

    As pessoas acreditam que elas são apenas prazer, sem nenhuma responsabilidade. Porém, para sustentar um ser é necessário lidar com a base dele. Sem nutrir a base, nenhum prazer poderá nascer de forma plena.

    Tornar-se adulto é um drama para muitas pessoas. Os pais ajudam este drama com ideias como “porque morar sozinho, aqui você tem de tudo”, ou “vai pagar aluguel para que? É dinheiro jogado fora”. Estas ideias levam em consideração que é errado usar nosso dinheiro em atividades como moradia, alimentação ou transporte. Estas atividades, no entanto, são a base de uma vida adulta. Se você não consegue bancar isso, nunca poderá sair de casa.

    Esta ideia também gera a noção distorcida de que nosso dinheiro só será usado para atender nossos impulsos, caprichos e desejos. Isso sem levar em consideração as necessidades básicas do ser que tem estes impulsos, caprichos e desejos. O hedonismo decorrente dessa noção distorcida é pernicioso para a compreensão do que é “ser adulto”. No momento em que se crê que ser adulto é apenas satisfazer desejos, se perde, por completo a noção real de ser adulto. O fundamento do ser adulto não é satisfazer caprichos, mas sim sustentar a base.

    Por este motivo é que muitas pessoas se sentem frustradas ao iram para a vida adulta ou sentem medo da mesma: elas não desejam lidar com o fundamento. Ouço muito a ideia de “ter o meu dinheiro só para mim”, quando as pessoas ainda moram com os pais. Como se, ao sair de casa, usar o dinheiro para pagar contas não fosse uma atitude “para si”, e sim para outra pessoa. Ora, se quero comprar uma casa e morar nela tendo energia elétrica e água encanada, devo pagar por isso. Essa atitude é “para mim”, muito embora você possa “não querer”.

    Aqui entra outro tema sobre ser ou não um adulto. Pessoas adultas sabem reconhecer a diferença entre “querer e fazer” e “não querer e fazer”. Pessoas imaturas só lidam com “quero e faço”, a maturidade requer saber lidar com “não quero e faço”. Isso se deve pelo fato de que as necessidades nem sempre vão de acordo com o nosso desejo. O prazer nem sempre tem primazia frente à necessidade.

    É necessário ter dinheiro para comprar comida. Outra opção é você cultivar a comida, mas aí suas necessidades serão diferentes: terá que se preocupar com o tempo, sementes ou ração para os animais. E você tem que comer. Por outro lado é interessante perceber em pessoas bem esclarecidas o prazer que sustentar-se traz. Há um prazer profundo na percepção de ser capaz de sustentar um estilo de vida que supera os prazeres sensoriais mundanos.

    Esse prazer mais enraizado em nossa biologia é o primeiro que segue a vida adulta. Ao ver que há estrutura em baixo de seus pés a pessoa sente-se alegre e firme em buscar por outros desejos. Não sentir ou conseguir isso é, na verdade, o grande medo que muitas pessoas sentem em relação à tornar-se adultos. Porém enquanto não se enfrenta este medo faz-se as coisas “apenas para si”, porém, um “si menor”.

    Abraço

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