– Mas Akim, isso não dá para mudar né?
– Porque não?
– Ah, é coisa de homem isso.
– “Coisa de homem”?
– Sim, sou homem e homem “caça” né?
– Ah sim, claro. Homens “caçam”.
– Então?
– Bem, homens também se agridem quando não conseguem o que querem. Você mata as pessoas quando elas não compram seus produtos?
– Não né?
– Ué, porque? Se você “caça”, você também “mata” não é?
– Mas aí é diferente né?
– Porque? Se você está focando na questão de instinto, então vamos reduzir tudo à isso para falarmos das coisas da maneira certa.
– É, mas é que não é só isso né?
– Não, eu não creio que seja, mas você está usando desse argumento. Percebe como ele é capenga?
– Tá bem o que você quer me dizer é que não é só coisa de homem eu sair pegando um monte de mulher?
– Não, é coisa de galinha.
O que influencia mais: genética, cultura ou a própria pessoa? A pergunta pode parecer simples, mas a verdadeira resposta é muito complexa. E nesse momento, a verdade é uma: ninguém sabe direito.
Posso parecer ousado em afirmar isso em meio à tantas revoltas e revoluções nas áreas culturais “provando” que determinados comportamentos “são” de origem cultural. Porém, que estuda as questões um pouco mais de perto entende que não é bem assim que a coisa funciona. Não sou tolo de afirmar que a cultura não influencia comportamentos, é óbvio que ela o faz, porém, o que de fato é a cultura?
A verdade que tenho visto até o momento é que com exceção de casos extremos em qualquer uma dessas áreas (genética, cultura e pessoa) ninguém consegue identificar, de fato, quanto de cada um desses elementos influencia (e/ou é influenciado) nossas vidas.
Já vi pesquisas que apontam que a inteligência é genética assim como um fator puramente cultural. Algumas afirmam ser puro condicionamento de comportamentos e alguns dizem sobre a questão da vontade de cada pessoa. Poucas são as pesquisas, no entanto, que buscam correlacionar fatores e tentar compreender como eles interagem para criar os fenômenos que desejamos estudar.
Acredito que é ingenuidade afirmar que tudo é cultural ou biológico ou fruto da vontade do indivíduo. Na verdade, toda esta discussão tem um viés filosófico sobre livre arbítrio ou determinismo. Encontrar os pontos de inflexão usando estes três elementos é, creio eu, o rumo mais acertado da ciência humana hoje. Negar quaisquer dessas influências é incorrer em um reducionismo que lembra os discursos modernistas já ultrapassados.
Eu, Akim, tenho pele de cor branca. Isso é genético, eu queimo mais fácil e rápido no sol. Nenhuma cultura vai mudar isso e nem mesmo a minha vontade. Logo, a questão é biológica, certo? Não. Porque a minha pele branca, no Brasil possui um significado. Quando vou para São Paulo, por exemplo, muitas pessoas falam em inglês comigo porque acham que sou estrangeiro. Logo, a minha pele é uma questão cultural, certo? Não. Porque muitas pessoas são brancas no Brasil nem todas, apesar da biologia e do significado que a pele branca possui reagem da mesma forma. Logo é uma questão do indivíduo não? Também não.
Este é o ponto. Tomei um exemplo “simples” que é a cor da pele. Neste exemplo já fica difícil compreender “a pele” em toda a sua extensão. Não há como negar nenhum dos argumentos e nem como olhar a cor da pele apenas por um deles. É necessário observar todos os pontos de vista. Cada um deles tem influencia maior ou menor dependendo do contexto no qual eles são inseridos. Se formos falar em mercado de trabalho, a questão cultural falará mais forte, em segundo lugar a pessoa e por fim a biológica. Já se formos falar em queimadura solar, o quadro se inverte.
Logo, não creio que o caminho seja “determinar” qual o fator que realmente importa, mas sim aprender a lidar com todos os fatores que são envolvidos no processo. Além disso é importante refletir sobre os contextos nos quais esses fatores aparecem. Creio nesta versão dos fatos como uma maneira de compreendermos fenômenos como inteligência, sexualidade, felicidade ou sucesso profissional com mais abrangência do que tentando reduzir tudo à uma esfera ou outra.