– O que você acha disso?
– Não sei. Mas me parece que você quer a minha opinião, não é?
– Sim, por isso estou aqui.
– Então você já sabe o que quer, de certa forma, mas está incerto disso?
– Algo assim, talvez.
– O que te faz sentir-se inseguro sobre isso?
– Não sei ao certo… é muita coisa para pensar.
– Sim, é. Talvez se você pensar nisso sua insegurança se torne segurança.
– Pode ser.
– Você acha que sentir-se inseguro sobre as decisões que toma é um dos motivos que trouxe você até aqui?
– De certa forma… acho que posso dizer isso sim.
– Perfeito, então acredito que isso é mais importante do que a minha opinião.
– Verdade.
Um dos pontos mais interessantes sobre a terapia é que as pessoas que vão até ela geralmente buscam respostas, mas não encontram isso e ficam frustradas. Aquelas que, por outro lado, vão em busca de perguntas se sentem muito bem e fazem um ótimo processo. Porque isso acontece dessa forma?
É muito comum as pessoas chegarem à primeira sessão, contarem sua história expondo dores, dúvidas e medos e, ao fim da explanação, olharem ao terapeuta com olhos chorosos perguntando: “o que eu faço?” ou “o que você acha?”. Neste momento, alguns terapeutas apenas devolvem à pergunta ao cliente, em um modelo clássico: “não sei, o que você acha?”. Outros caem na tentação de tentar responder a pergunta e assumem um pesado fardo. Também tem aqueles que ficam em silêncio, sem saber o que responder. Alguns olham para o cliente e simplesmente dizem: “não sei, esta é a sua pergunta?”
A terapia ou “psico terapia” ficou conhecida como uma atividade na qual encontramos respostas. Com certo cuidado, quero dizer que isso é mentira. O que, de fato, encontramos em uma terapia são perguntas, muitas e muitas perguntas. O psicólogo não é o profissional que tem as respostas para a sua vida, ele tem as perguntas. As respostas para as suas dúvidas não estão escondidas no córtex do psicólogo que cruelmente faz você vir toda a semana para a terapia tentar extrair dele a verdade sobre você mesmo. O que temos no nosso córtex são milhares de perguntas e você nem precisa fazer muito esforço: vamos encher você com elas.
Porque? Obviamente a pessoa que está em sofrimento poderia responder que é por crueldade ou por falta de profissionalismo, tal como ouço muitas vezes: “Akim, você já sabe a resposta, diz aí”. Porém, não é por este motivo obscuro e sim por dois fatos importantes: o primeiro é que não sabemos a sua resposta para a pergunta e em segundo lugar, porque o que realmente importa é você aprender o raciocínio. Em terapia não se encontram respostas, criam-se respostas. Não somos um banco de dados com informações sobre o que é melhor para a sua vida, somos aqueles que lhe ajudam a conhecer seus potenciais e a usá-los de maneira adequada.
É óbvio que, vez ou outra, em determinados casos o profissional passa orientações, ensina algum conceito ou revela o que está pensando ao cliente. Isso também faz parte, porém a noção de que o psicólogo detém as respostas de antemão é errônea, ele detém as perguntas de antemão. Isso porque estuda-se o comportamento, mente ou inconsciente humano e organiza-se os recursos para ajudar isso tudo a funcionar. As perguntas são os recursos. Sem elas, não há terapia. Sem perguntas existe orientação, que pode ser importante, mas são dois processos diferentes.
Fazendo uma comparação, é como se a terapia fosse uma academia. O professor passa os exercícios e é o aluno quem faz, ele apenas faz pequenas correções em termos de postura ou maneira de se movimentar, mas o trabalho maior é do aluno. O mesmo vale para a terapia, se o terapeuta trabalha mais que o cliente, algo está errado. Se ele faz pelo cliente está profundamente errado. A pessoa é quem precisa se confrontar com seus potenciais para conseguir dar conta da história que ela própria traz ao consultório. Quando encontramos mais perguntas do que respostas, a terapia está sendo boa.