– Mas daí quando eu saio acabo me sentindo mal.
– Claro.
– Porque claro?
– Porque não é o que você gosta. Quero dizer, sair e ficar horas de papo, embriagado e gritando na balada não é a sua cara!
– Mas porque eu sou tão anti social assim?
– Você não é anti social.
– E o que eu sou então?
– Simples: introvertido.
Pessoas introvertidas são, em geral, descriminadas pelos outros e por elas mesmas. Comparam-se com pessoas extrovertidas e ao fazer isso acreditam que não são boas o suficiente para viver em sociedade. Porém, será o introvertido “ruim” no trato social, ou apenas “diferente”?
O mundo possui pessoas introvertidas e extrovertidas. Estes gostam de contato social, exibir-se, tendo como foco atividades de alta energia. São pessoas “para fora”, o contato com o outro as alimenta enquanto a solidão tende a ser um problema. Gostam de festas e muitas pessoas, adoram perceber reações de outras pessoas e conversar com elas. Isso é algo que genuinamente as “alimenta”. De outro lado temos pessoas que são introvertidas, ou seja, aquelas que preferem ficar mais sozinhas, cujo contato social tende a ser diminuto e que focam mais “para dentro”.
O drama do introvertido em uma sociedade que valoriza a extroversão é crer-se, sempre, um problema. Ele tenta ser extrovertido, mas não consegue, pior, sente-se mal duas vezes: uma por não conseguir e outra por sentir que não quer fazer aquilo. O drama é que eles não são compreendidos em sua natureza básica que é mais quieta e individual do que a dos extrovertidos. Dizem aos introvertidos que eles são tímidos e isso é um problema para ser solucionado, enquanto a criança extrovertida da classe é tida como modelo de “como ser”. Porém, há algo de errado com o introvertido?
Não. Esse é o drama deles. Boa parte dos introvertidos com quem trabalhei sabiam, desde cedo, que não havia nada de errado com eles. Porém como crer nisso em uma sociedade que preza a extroversão como a brasileira? Em uma cultura na qual você precisa ser alegre e gostar de dançar (“quem não gosta de samba, bom sujeito não é”), paquerar e beber, como dizer: prefiro ficar lendo um livro durante o feriado? Um programa como esse é tido como chato ou “estranho” o que leva ao paradoxo: não há nada de errado com ele, mas parece que tem.
Pessoas introvertidas gostam de contato social. Porém a maneira de realizar este contato é diferente, a quantidade de tempo que eles apreciam permanecer neste contato é diferente e o contato em si é diferente daquele dos extrovertidos. Uma pessoa introvertida, por exemplo, pode gostar mais de um papo reflexivo do que de um descontraído. Ter um tema de conversa e um desafio lógico podem ser interessantes para ele ao pessoa que ficar “jogando conversa fora” pode soar entediante. Porém, culturalmente falando, essa preferência não é exaltada.
Assim, caso você seja uma pessoa mais introvertida, seu “desafio” é dizer sim para você e sua forma de ser. Não se cobre em ser mais social, ou ser social de uma determinada forma, isso, em geral, só vai lhe trazer desconforto. Busque o prazer no contato com formas de contato que lhe tragam prazer. A partir disso explore outras formas caso seja algo que você sinta vontade de fazer. Entenda: você não é anti social, apenas deseja o contato de uma outra maneira, menos aberta e “para fora” do que nossa cultura costuma oferecer.
Em relação à cultura, é momento de aprendermos a apreciar os introvertidos. Figuras que não são valorizadas, pois não aparecem tanto quanto seus colegas extrovertidos porém representam em termos de números a mesma quantidade. A valorização das virtudes introvertidas como reflexão, cautela, distância e isolamento são fundamentais para qualquer cultura. Essas características são, inclusive, a base do desenvolvimento da criatividade e ciência, sem reflexão cautelosa tomando certa distância não desenvolvemos o pensamento. Que tal valorizar mais os quietinhos?
Abraço