– Eu quero criar o meu futuro Akim, já passa da hora!
– Eu sei. Como pretende fazer isso?
– Não sei! Não sei o que eu quero direito.
– Quem é você?
– Como assim?
– Quem você é? Pare, reflita um pouco: você tem clareza sobre quem é?
– Bom… pensando assim, não.
– Então como esse “eu” que não sabe se reconhecer vai querer algo para o seu futuro?
Há muitas estratégias hoje em dia para criar metas e realizá-las. Porém existe um fator fundamental sobre metas e objetivos que nem sempre é levado em consideração: o “eu”. Embora possa parecer ridículo pensar sobre isso, imagine que é comum as pessoas criarem “para si” metas que, na verdade, são apenas expectativas da família ou da sociedade.
O problema quando as metas são dos outros é que podemos usar um bom tempo e esforço e conseguir atingir o que nos propomos. Sim, você leu corretamente: quando as metas que seguimos não nos pertencem, corremos o risco de atingi-las. Porque isso se torna um risco? Em primeiro lugar porque tendo o reconhecimento dos outros podemos continuar em uma meta que não é nossa. Em segundo porque, como ocorre em vários casos que atendo, ao atingir a meta a pessoa sente como se tivesse desperdiçado seu tempo. É a sensação de uma vitória na qual a pessoa em si não ganha nada. E isso é verdadeiro.
Quando assumimos o desejo de outra pessoa ou de nossa família, nos sentimos em paz. Isso ocorre porque sentimos que estamos criando nosso lugar de pertencimento. E essa é uma sensação prazerosa. Porém, se o que estamos fazendo não está vinculado ao nosso crescimento pessoal, não teremos a sensação de plenitude, preenchimento e orgulho pessoal do que fizemos. Nos tornamos um “bom menino” ou “boa menina”, mas como diz o ditado “boas meninas vão para o céu, meninas más vão aonde querem”. A sensação de pertencimento não inclui, necessariamente, a sensação de querer.
Então muitas pessoas querem criar o seu futuro. Querem “vencer na vida”, estabelecer metas e sair da inércia, vencendo a procrastinação e depressão. Porém, não desejam responder a primeira pergunta: quem sou eu? Se não sei quem sou, para quem vou criar um futuro? É interessante notar que as pessoas cada vez mais tem dificuldades em responder esta pergunta e, quando tentam, dificilmente conseguem sair do clichê “eu gosto”. Nada contra o gosto, mas a vida é muito mais do que uma lista extensa do que “gostamos” ou não de fazer (e muito mais complexa).
Sempre digo que para descobrir quem somos temos que olhar o que já somos, o que já temos. Ninguém gosta desse conselho. Porque? Porque todos querem ser “muito mais”, “muito melhor” e então, olham para o lado, para os modelos e demandas sociais. Não olham para si. O eu, nesse momento, parece tão pequeno, chato, feio, sem graça que não vale a pena olhar para ele. O que teria ali? Esta é a pior alienação de todas. Alienar-se de si pelo medo ou desdém daquilo que já se é.
Porém, se você conseguir aceitar um pouco quem já é, o que já faz, poderá ver quais são suas virtudes e forças. Ou seja, aquelas coisas que você faz de forma “espontânea”, que alimentam sua alma e fazem você se sentir bem por si só e lhe trazem uma sensação de crescimento e orgulho pessoal. Pode ser curiosidade perante o mundo ou um senso de auto regulação. Talvez você seja bom humorado ou espiritualizado. Também poderá ver suas necessidades e anseios. Aquilo que você realmente gostaria de obter neste mundo e não aquilo que lhe disseram que era para ter.
Com isso em mãos é mais simples imaginar o futuro. Que tal poder usar aquilo que você já faz bem em prol de algo que você quer ou precisa para ficar bem consigo mesmo? Quando as pessoas encaram o futuro desta maneira, ele começa a se tornar mais “fácil” de ser criado. Porém, para tudo isso ocorrer é fundamental se permitir olhar para você tal como é, sem mudar nada. Hoje todos temem esta última frase. Porém é somente nela que reside quem você, de fato, é. E é somente a partir daí que bons planos do futuro podem surgir.
Abraço