– Mas eu não quero ficar por aqui só.
– Porque não?
– Ah Akim, tem tanto para ser feito no mundo, porque eu vou me contentar só com isso aqui?
– Me responda você. É ruim “isso aqui”?
– Não… não é isso, mas a gente tem que ir além né?
– Você tem?
– É… eu penso assim.
– Quem “tem que” fazer algo, em geral está preso à este algo e não livre.
– Essas suas teorias… você quer o que de mim?
– Nada. O que você quer de você?
– Ser muito mais.
– Sim, porque do jeito que está…
– Não basta!
– Exato. Este é o seu tema. Nunca poder olhar para você, apenas para o que se espera de você.
Em nossa sociedade é muito comum ouvir, nas pessoas o desejo de não ter limites. O sonho de poder ser capaz de tudo, de não incorrer em consequências de nossos atos e de poder criar qualquer relação que quisermos entre os elementos do mundo que as mesmas darão certo, “basta querer”. O desejo, embora romântico é tolo, mas porque?
Em primeiro lugar pelo fato de ser irrealista. Tudo possui limites. Não tê-los, por exemplo, também é um limite. Você se torna “aquele que não tem limites”, isso, por si só, é uma definição e, portanto, um limite. Aqueles que desejam sempre ir além dos próprios limites, embora de um lado tenham um discurso belo sobre a superação e “ser melhor” (afinal o que é isso?), deixam de lado a angústia constante na qual vive alguém que não pode aceitar os próprios limites. Esta aceitação, inclusive, ao invés de aprisionar, liberta.
E não, não é porque a pessoa se torna medíocre. Pelo contrário. Desenvolver-se, assim como tudo mais na vida é uma arte e uma ciência. Aquele que deseja, verdadeiramente, aprimorar-se na arte de ser melhor saberá que não é possível ser melhor sempre em tudo aquilo que se deseja. O universo no qual estamos é cheio de limites que definem as regras do jogo no qual vivemos. Uma delas é que temos recursos limitados. Assim sendo, não é possível “fazer tudo”. Então, quem realmente deseja aprimorar-se sabe que deve escolher aquilo no que deve aprimorar-se.
Não ter limites, portanto, é um desejo tolo, pois não foca naquilo que a pessoa realmente pode fazer. Aquele que não deseja ter limites também é aquele que não se reconhece. Como poderia? Somos seres limitados por natureza, assim sendo, ao negar os limites, negamos a natureza de nossa condição. É justamente dentro dos limites que o ser humano se destaca: não somos fortes como os ursos, mas os caçamos. Não respiramos abaixo da água, mas tomamos os peixes, não temos asas e conseguimos voar. Aceitamos nossos limites: não voamos, portanto temos que criar algo que voe por nós.
O que temos, então? Emoções, pensamento, competências. Dentro destes limites podemos existir e construir algo. É com eles que prosseguimos aceitemos isso ou não. Dizendo sim para os limites, nos abrimos ao que eles podem fazer. Dizendo não negamos sua real potencialidade. O limite aceito nos liberta porque mostra o caminho que podemos trilhar dentro daquelas potências. O limite negado aprisiona porque nos faz ficar em luta permanente com o que somos.
O que realmente nos atrapalha, neste momento, é o ego. O que mais limita a experiência humana é o ego que não permite à pessoa ser aquilo que ela pode ser. Almeja sempre outra coisa, outra condição: “lá serei feliz”. Porém deixa de lado o aqui e agora que é. Crescer nada mais é que alcançar novos limites. A pessoa sábia consegue olhar para isso e compreender quais os limites deseja alcançar. A busca de novos limites por si só torna-se enfadonha para muitas pessoas também, mas é difícil admitir isso quando se coloca esta perspectiva como meta de vida.
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