– Mas Akim… é minha mãe!
– Eu sei.
– Então, como que eu vou dizer para ela: “não”.
– Eu me lembro de que na última sessão você disse algo sobre a separação deles, você se lembra?
– Sim, que eu não entendo porque eles não se separam. Ela até pode viver sozinha ou comigo se quiser, já falei isso para ela.
– Então… porque ela não se separa? Ela tem tudo o que precisa não tem?
– Essa pergunta parece pegadinha.
– E é. Ela tem tudo o que precisa.
– Ela só não quer?
– É.
– Porque Akim, não consigo entender.
– Consegue. Você não consegue aceitar.
– Porque ela escolheu meu pai…
Os filhos sempre desejam servir à família. As crianças assumem fardos, culpas e obrigações por seus pais e irmãos porque os amam. Elas não tem outras referências e desejam pertencer ao grupo familiar. O amor, unido à estes elementos faz um “amar cego” e cria emaranhamentos fortes. Uma dinâmica comum são os “protetores da mamãe”.
Filhos que protegem a mãe não evoluem. Esta frase dura precisa ser adequadamente entendida. Refere-se à uma dinâmica emocional e psicológica que coloca o filho como o protetor da mãe. Ora, se lhe cabe proteger a mãe, como ele poderá deixá-la? Como poderá “sair do ninho”? Não poderá. Esta é a verdade. A criança abdica de seu desenvolvimento para manter-se fiel à mãe protegendo-a contra o aquilo que julga lhe causar mal. A realidade deste “mal” ou a incapacidade da mãe em proteger-se são fatores que não são avaliados, ele se tornam inerentes à crença de que a mãe precisa ser protegida. A criança se arroga e se coloca acima da mãe e, muitas vezes, contra o pai.
Algumas vezes não e apenas a criança quem faz o movimento. A mãe também se coloca como vítima de sua própria vida e escolhas e deseja o filho como seu protetor. Desta forma o ciclo se fecha. Em geral, esta dinâmica traz o pai como vilão. Assim sendo, mãe e filhos precisam criar um “time” contra o pai. Aquele que protege a mãe precisa ferir e defendê-la do pai. Paradoxalmente, porém, a mãe deste tipo de dinâmica nunca deixa o convívio com o pai. Ela nunca se afasta. Mesmo em situações nas quais pode, financeiramente falando, se sustentar sozinha, ela permanece. Este dilema atordoa muitos filhos e filhas protetores. “Porque ela não se separa?”, me perguntam indignados. E ainda afirmam: “eu já disse que eles podem e até devem fazer isso”.
A pergunta traz à tona, de maneira disfarçada, a realidade oculta da relação entre os pais. O fato é que a busca da mãe deste tipo de dinâmica não é proteção, mas sim poder. Ela não deseja afastar-se do homem, deseja controlá-lo afim de que ele lhe sirva tal como quer. O controle e disputa pelo poder é o tema da relação entre eles. Nenhum dos dois cede, porém a mãe tenta trazer os filhos ao embate afim de “ganhar” a disputa. Obviamente, nenhum dos dois lado vence. O que ocorre é que o pai se afasta ainda mais, cria-se uma barreira de gelo entre a mãe e os filhos e o pai. As agressões podem ser tornar quentes ou frias, mas a distância se mantém. Paradoxalmente, esta distância é o que mantém a relação.
Assim sendo, os filhos protetores precisam ficar em guarda o tempo todo como guardiões dessa distância. Eles se intrometem no meio dos pais achando que vão mudar alguma coisa. Nunca o fazem. Com isso também não conseguem se desprender para viver a sua própria vida. O senso de culpa que guardam em segredo por atacar o pai os impede. Quando realizam a noção de que a mãe escolheu o pai e que é ela quem deve lidar com a relação, podem se libertar. A arrogância vivida até então se mostra em culpa por ter ido além de seu domínio como filho. Se a pessoa consegue assumir a culpa e sai do meio dos pais aceitando ambos como são e a relação deles tal como é, pode aceitar a vida que eles lhe deram. Com isso, pode partir.
Abraço