– Eu quero trabalhar com isso Akim.
– Tem certeza?
– Sim.
– Olhe para isso então. É simples. Basta olhar. Diga: sou orgulhoso. Diga isso e sinta isso em você.
– É difícil. Não gosto de me ver assim.
– Eu sei, mas mesmo assim, tente continuar. Olhe e aceite isso em você.
É fácil dizer: “eu sei que sou imperfeito”. A experiência de imperfeição, por outro lado é difícil de ser admitida. Em geral, quando nos sentimos imperfeitos, tendemos a depositar a frustração que sentimos na forma de culpa perante os outros ou até em relação à nós mesmos. Ambas são uma maneira de fugir da percepção de imperfeição.
Há uma diferença entre discurso e experiência. É possível falar sobre algo sem sentir ou agir de forma coerente com aquilo que é dito. Assim sendo, também há uma diferença entre saber algo e viver algo. Saber que existem lagos nos EUA não me dá a experiência de ter entrado na água destes lagos. A imperfeição é, para a maior parte de nós, algo conhecido, porém dificilmente experimentado. A tendência é falarmos sobre a imperfeição, mas criar uma auto imagem na qual aquilo que falamos, sentimos e pensamos é a verdade.
Cria-se, então uma distância entre o discurso e a prática. A tarefa dura está em quando a realidade nos mostra nossa imperfeição. Ela é perita nisso. São as ideias que não dão certo, os comportamentos que não atingem resultados, os sentimentos que damos por certos, para depois verificar que exageramos ou que entendemos a situação de maneira equivocada. A imperfeição se mostra, de forma ainda mais sutil, porém forte, quando notamos nossas características e limites. Ao vermos que não damos conta de tudo e que não somos capazes de tudo.
Porém é exatamente esta percepção que nos libera a vista para quem somos, tal como somos. É um erro comum crer que auto estima se relaciona em só ver aquilo que há de bom em nós, ou pior: em só ter coisas boas dentro de si. Ela lida com tudo o que existe. A imperfeição, geralmente significa aquelas partes que não aceitamos em nós. Aquilo que queremos deixar de lado, por ser duro demais para engolir. Com isso deixamos de lado a possibilidade de nos amar tal como somos.
Então, uma das saídas é buscar projetar a imperfeição como culpa. Ao invés de assumir meus erros ou limites, digo que o mundo é ruim e castrador ou que eu sou “burro”, por exemplo. Culpar o mundo por algo meu não é uma forma de aceitar quem sou. Me classificar como “burro” tão pouco, pois evita o contato com o limite. Cria uma definição de “eu” (o burro) na qual o limite está “adequado”, porém, continua sendo negado.
Assim sendo, aceitar a imperfeição é, nada mais, nada menos, que entrar em contato com o medo que temos de não ser. Não sou tão bom, inteligente ou empático quanto penso. Não sou tão forte ou tímido quanto imaginava. Aceitar isso nos causa medo, porque, em geral, é algo que execramos e buscamos deixar do lado de fora do nosso eu. A tentativa é sempre vã. Aceitar é enfrentar o horror de se perceber exatamente aquilo que execramos. A humildade e a coragem são as virtudes mais importantes nesse momento. Porém, uma vez visto o monstro, temos a percepção plena de que ele não é tão monstruoso assim, apenas uma parte nossa, negada.
Abraço
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