• 19 de abril de 2019

    Trabalho não serve para tapar buraco emocional

    – Eu me sinto muito frustrado.

    – O que está te frustrando?

    – Eu não sei o que acontece… eu cheguei no topo da empresa, mas agora…

    – Parece que está tudo igual?

    – Pois é… no começo fiquei empolgado, mas…

    – Viu que estar aí em cima é apenas poder olhar para quem está ainda mais acima?

    – É…

    – Pois é… sempre vai ter alguém “mais acima”…

    – O que eu faço?

    – Não sei… você vai querer olhar para o seu sentimento de “estar abaixo” ou ainda vai desejar fingir que pode “superar” isso, conseguido um cargo mais alto?

     

    Muitas pessoas desejam o sucesso no mundo do trabalho. Porém, para o que olham? Em geral, pensam apenas no sucesso, a conquista e a glória e não olham para o trabalho em si. São apaixonadas pelo fim (o sucesso) e não pelo meio (o trabalho).

    Este é um tema muito comum e que cada vez mais aumenta em número. O desejo de muitas pessoas em obter o sucesso tem um compromisso apenas com o sucesso e não com o trabalho que leva até lá. Porém, qual o problema com isso? O trabalho serve à algo e isso não é o sucesso. O trabalho visa um efeito direto sobre a realidade, independente de sua profissão, existe um efeito direto na realidade que seu trabalho irá realizar, desde trocas de produtos, produção de mercadorias e prestação de serviços. Estes são os “fins” do trabalho, pois é com isso que as trocas são geradas.

    O que pretende, então, a pessoa que apenas visa o sucesso? Quando os olhos de alguém só conseguem ver o sucesso, elas não olham o trabalho em si, este, fica secundário na equação. Então a pessoa está olhando para a realidade? Não, ela quer algo do mundo. Ela está exigindo algo: me deem sucesso, eu quero, eu “mereço”. E esta é a dinâmica oculta em muitas pessoas que buscam o sucesso, que olham apenas para ele. Vale lembrar que não sou contra o sucesso, fico feliz quando as pessoas a partir de seu trabalho são reconhecidas e avançam na vida.

    Assim temos uma dinâmica de demanda que pode surgir a partir  de uma percepção inadequada sobre si. E aqui temos duas dinâmicas comuns, a primeira tem uma pessoa que acredita ser mais especial do que é. Ela tem certeza de que seu lugar é acima dos outros, foi ensinada assim. Ela precisa estar acima dos outros porque senão estará abaixo. Esta foi a mensagem que lhe passaram. Como estar “abaixo” soa horrível, ela precisa estar acima. Como o trabalho é o que nos faz “ficar acima”, ela trabalha, mas o foco é “estar acima”.

    O outro tem certeza de que está abaixo. Sente-se fraco e frágil, talvez já tenha passado por bullying e humilhações e por isso, vê no trabalho, sua última chance de salvação. Ele precisa do sucesso para mostrar para os outros (para si) que tem algum valor. O trabalho, então é o obstáculo que o afasta do sucesso, de sua tranquilidade. Em ambos os casos as pessoas estão emaranhadas em uma séries de compreensões errôneas sobre o trabalho e sobre si. O trabalho, não serve para lidar com estas questões emocionais, ele apenas se presta a um serviço, quando colocamos outras coisas sobre ele, se torna muito difícil trabalhar.

    Obviamente, o sucesso também não vem, ou pior: vem, mas a satisfação esperada com ele não surge. Com isso a pessoa se revolta. O fato é sempre o mesmo, o trabalho não traz sucesso, o resultado do nosso trabalho pode trazer, mas a função do trabalho não é essa, é executar um serviço. Quando a pessoa compreende isso, pode olhar para seus buracos emocionais e tratá-los com as “ferramentas certas” e, então olhar para o seu trabalho e lidar com ele do jeito certo. Não raro as pessoas trocam de profissão quando fazem isso, porque aí percebem com o que realmente querem trabalhar.

     

     

     

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