• 29 de maio de 2019

    Filosofias das emoções

    – Mas Akim, como é que eu vou ficar daí?

    – Como assim?

    – Tá, eu vou pegar e vou explodir no escritório? Pegar e mandar todo mundo se catar?

    – Não sei, é isso que você vai fazer?

    – Se eu “me permitir” sentir raiva, sim!

    – E porque?

    – Ué, como assim porque?

    – Sentir a raiva é uma coisa, a expressão disso é outra. Você não precisa “explodir e mandar todo mundo se catar” para expressar sua raiva de forma adequada.

    – Não?

    – Não, isso é uma questão de escolha de comportamento.

    – (silêncio)

    – Mas me parece que é assim que você acha que “tem que ser”. E por entender isso, a raiva se torna algo catastrófico para você.

    – Pois é, é isso. Meus pais sempre falavam que raiva não é bom.

    – Exato.

     

    Todos temos ideias sobre as emoções. Algumas são “boas”, outras “ruins” e algumas podem “acabar com você”. É importante compreender que a “filosofia” que adotamos sobre as emoções influenciam nossa vida afetiva muito mais do que as emoções em si.

    Quem lê minhas postagens sabe que eu gosto do tema das emoções. O que eu mais acho interessante, não são elas em si, mas todo o instrumental que está ligado à elas. Esta parte da filosofia das emoções é o que eu acho mais interessante. É muito rico ver que a raiva ou s tristeza, por exemplo, podem ser um alívio para alguns e uma catástrofe para outros. Isso porque cada emoção está ligada, de certa forma, à um conjunto de temas que as ativam. Sobre estes temas e as reações possíveis à eles temos ideias que acabam permeando nossa concepção sobre as emoções.

    Por exemplo, se alguém vem de uma região pobre e acaba subindo na vida, com certeza o fez com muito esforço. É possível que esta pessoa, como estratégia de defesa psíquica tenha aprendido a desdenhar de suas perdas ao longo da jornada. A perda, em geral, ativa a tristeza, mas quando você está em uma situação de luta pela sobrevivência, pode ser inadequado sentir isso de forma plena. Assim, a pessoa diz para ela mesma algo como “não adianta chorar sobre o leite derramado” e segue em frente.

    Esta ideia, quando é passada para a próxima geração poderá assumir um valor mais forte: “eu não liguei para o que eu perdi, chore e você será um fraco e não vai conseguir nada nessa vida”. Pronto, temos aqui o que chamo de “emoção proibida”, junto com uma filosofia sobre emoções. A tristeza, choro, ficar mais passivo ou pensativo se tornam comportamentos de pessoas fracas e derrotadas. Todas emoções associadas com isso se tornam também coisa de gente fraca que acaba com a vida da pessoa. Porém essas ideias não são a verdade, são apenas uma forma que alguém usou para subir na vida.

    Se isso fosse verdade, Abraham Lincoln e Winston Churchill ambos sofrendo de depressão não teriam conseguido se tornar presidente e primeiro ministro, respectivamente e muito menos vencerem duas guerras sangrentas. A filosofia que temos sobre as emoções nos impedem de acessar os conteúdos que elas trazem e com isso aprender ainda mais sobre nós mesmos. Às vezes a repressão emocional é importante, mas ela sempre cobra seu preço. Na literatura, não existem relatos de que a repressão emocional, a longo prazo tenha efeitos positivos.

    Se você não pode ou não deve sentir uma emoção, ou até “não gosta”, tome cuidado: é possível que você tenha um “preconceito” sobre esta emoção que apenas revela que você aprendeu algo inadequado sobre ela. É importante vencer estas filosofias afim de aprender mais sobre você mesmo e sobre como lidar com o mundo de forma mais plena. Quando nos permitimos sentir todas as emoções vemos que elas não acabam com a gente, o que acaba com nós, de fato, são as respostas inadequadas que podemos dar às emoções (e essas estão sob nosso comando).

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