– Eu não sei o que trabalhar hoje.
– O que acontece aí?
– Não sei, nada… só um branco.
– Ok, vamos olhar este branco. Foque nisso, sem intenção e apenas perceba o que acontece no seu corpo.
– (depois de um tempo) Eu sinto um incômodo.
– Perfeito, olhe para isso, que tipo de incômodo é?
– Não sei dizer direito… mas não gosto disso.
– Certo. Apenas fique em contato com isso.
– Tá bem.
– O que acontece, que informação surge sobre este incômodo?
– Eu estou pensando em algo que ocorreu ao longo da semana.
Muitas vezes as pessoas dizem “deu um branco”, e entendem que o branco é “nada”. Ora, na nossa neurologia não existe “não informação”, tudo é uma informação, o “branco” inclusive. Apender a entrar em contato com isso nos ajuda a ver o que no branco.
A metáfora da tela em branco é sempre usada para iniciar um processo de criatividade. Olhamos para a tela em branco e nela começaremos a projetar aquilo que vamos pintar. O mesmo vale para a página em branco, onde o escritor escreve suas palavras. Assim sendo o “branco” ao contrário de”nada” é o início de um processo. Quando alguém traz que está com a mente em branco isso pode ser um ótimo sinal, se soubermos aproveitar o que ele significa.
É adequado entender que o branco é um mecanismo de defesa também. Nesta percepção, o branco que surge na mente da pessoa está protegendo ela de algo que é difícil de ver. Neste caso, é necessário lidar com o assunto de forma tranquila e assertiva. Olhar é necessário e fazê-lo com tato, pois a pessoa está deixando claro com o branco que há algo que ela não consegue, não quer ou teme ver. Assim sendo entrar em contato com o branco também envolve entrar em contato com a emoção que ele traz consigo.
Quando se une as duas percepções, temos o acesso ao branco enquanto um processo criativo sobre um tema escondido. Consideramos que quando a pessoa olha para o branco ela já está olhando para aquilo que não quer, ou seja, já está em contato com o tema. O que ocorre em termos psíquicos é que o conteúdo se mostra como um branco. Por este motivo mantém-se o contato com o branco, aquele já é o tema, embora não tenha assumido a forma de palavras e cenas “concretas” e específicas.
À medida em que a pessoa foca o olhar, ela começa, aos poucos, a acessar outras informações relativas ao tema. Uma sensação física como desconforto, oscilação na respiração, vontade de sorrir, rir ou chorar, ou talvez passe algum pensamento aleatório pela mente de pessoa, ou uma emoção surja de forma suave. A partir deste momento, a conexão com o tema já se estabeleceu de maneira mais profunda. Com isso é possível começar a conversar sobre algo.
O que confunde muitas pessoas é que o branco ou o vazio não são temas que surgem de forma imagética ou com um tema associado especificado de maneira verbal. Como este tipo de imagem não se faz presente as pessoas acham que não há nada ali. Porém sempre há, ou o branco não estaria ali. Dessa forma, aprender a lidar com linguagem sensorial é importante para perceber que nem só de palavras se faz a nossa psique. comportamentos e metáforas são linguagens muito mais antigas.