– Eu não sei direito o que eu estou fazendo aqui.
– Não sabe mais?
– É… não mais…
– Que ótimo. Porque será?
– Não sei… aquilo que eu trazia aqui… parece que está mais tranquilo.
– Exato. Por isso perdeu mesmo o sentido, que bom que você está sentindo isso.
– Porque bom?
– Significa que está na hora de rever o que você quer com a terapia ou se você ainda quer terapia.
– Hum… não tinha visto assim… é verdade… eu estou muito melhor com o tema que me trouxe aqui… já não tenho mais problemas com a minha mãe.
– Pois é, eu concordo.
– Mas eu tenho outras coisas que eu quero ver.
– Ótimo, então podemos ir para elas. Se em algum momento tiver algum problema com sua mãe podemos ver isso novamente, mas vou achar muito legal tratar de outras coisas contigo!
– Agora me animei!
– Eu também!
Esta é uma pergunta interessante, pois, muitas vezes as pessoas possuem expectativas sobre o processo que nem sempre são aquilo que a terapia pode oferecer. Esclarecer é sempre importante para que ambos -terapeuta e cliente – saibam o que estão fazendo.
Muitas vezes as pessoas querem que a terapia tire algo delas. Que tire o meu pânico, minha depressão ou meus problemas com marido ou esposa. A terapia não tira os problemas de ninguém, ela não pode fazer isso. Ela, ao contrário, auxilia as pessoas a viverem suas vidas de forma plena com os problemas. Terapia trata de resolução de problemas e não de extirpação dos mesmos. Assim, quem procura a terapia e acredita que ela será boa se não tiver mais problemas, está enganado.
Uma das formas pelas quais a terapia faz isso é trabalhado com as crenças que as pessoas tem. Assim sendo, nada de passar a mão na cabeça e dizer “pobre de ti”. Um bom processo de terapia mexe com a gente e nos faz rever aquilo no que acreditamos e mostrar como isso organiza nossos pensamentos, comportamentos e sentimentos de modo a manter os problemas dos quais reclamamos. Isso significa que na terapia, vemos como nós contribuímos para aquilo que nos fere na vida.
Pois é somente assim que podemos fazer algo não? Se aceitarmos a crença de que somos vítimas, nosso processo termina aí. Porém quando vemos a nossa contribuição é que podemos fazer alguma inferência. Por isso terapia dói tanto. Por isso ser terapeuta e cliente é tão difícil, embora também seja recompensador. Então a terapia trata sobre como nos organizamos internamente e externamente afim de termos os resultados atuais e como podemos fazer para ter novos resultados.
E nisso, a participação ativa da pessoa é fundamental. Terapia não é ir ao consultório do psicólogo, terapia é olhar para si todos os dias de uma forma diferente, é ousar em todas as interações do dia a dia e perseguir novas formas de expressar-se. A terapia não se faz nos momentos com o terapeuta, ela se faz fora do consultório. Lá colhemos percepções e novas ideias, fora de lá colocamos ela em prática. É lá fora que a mudança se concretiza de verdade e não lá dentro.
Assim a terapia trata sempre, da vida. E é angustiante tratar da vida, pois ela nunca tem uma forma fixa e imutável com a qual podemos lidar tranquilamente. Ela é sempre esta força mutável e evolutiva a qual podemos, apenas nos adaptar. Quando se entende isso, nos conectamos com nossa existência de uma forma diferente e mais ampla. Conseguimos, com isso, evoluir e mudar. E é disso que trata a terapia.