– Eu não me imagino fazendo isso.
– Sim, claro que não. O que você sente ou pensa ao imaginar isso?
– Ah, eu penso no que vão me dizer sabe?
– Não, o que você teme que te digam?
– Minha família já falou. Eles dizem: você é egoísta!
– Que ótimo, porque é bem isso mesmo. Agora o ponto é: isso é saudável?
– Acho que não.
– E abrir mão, sempre, do que é importante para você em prol do que é bom para eles também não é egoísmo?
– Não tinha pensado nisso.
– Então, se eles fazem o que querem a partir do seu dinheiro, tudo bem, mas se você faz o que quer é egoísmo. Interessante.
– Pensando dessa forma, parece meio injusto mesmo.
– E é.
Quando sentimos medo de algo é importante nos perguntar: que ameaça isso me traz? Quando se fala em medo de perder o controle, o ponto é: o que acontece quando se perde isso? A perda é temida, mas por qual motivo? Qual é a ameça contida na perda do controle?
Uma questão importante é compreender o que leva a pessoa compreender que o controle é necessário. Talvez ela perceba que sem controle, “vou me perder”, “não vou conseguir atingir meus objetivos”, “alguma coisa vai sobrar para mim”. Esta compreensão é importante porque se perder o controle é algo temido, é porque aquilo que a pessoa acredita que o controle mantém é fundamental. Assim sendo, percebemos que o medo precede a perda do controle, o controle, em si, já é uma tentativa de lidar com o medo de não conseguir aquilo que acredita-se que o controle irá manter.
Dito de outra forma: eu acredito que se não controlar tudo o que a minha mãe faz financeiramente, vai sobrar para mim. Este é um exemplo de frase dita por alguém que teme perder o controle. Outra frase: “se eu não me policiar, vou acabar falando o que eu realmente sinto e aí ninguém vai querer ficar perto de mim”. Obviamente, estas frases já estão em um “nível avançado” de terapia. Mas é aí onde se chega. No fundo, as pessoas “sabem” disso, embora nem sempre consiga articular a frase dessa maneira.
Assim sendo, muitas pessoas que temem perder o controle, na verdade temem uma nova forma de ação. Ou seja, elas possuem alguns problemas, em geral de orgiem social, e encontram uma solução para isso, geralmente assumindo uma postura que não é sustentável e saudável a longo prazo. O fazem porque esta resposta as mantém num lugar especial dentro das relações. Porém com o tempo isso as desgasta e elas desejam sair disso.
Aí elas buscam terapia. E o grande problema é aprender a agir de forma espontânea. Tomando as frases acima, o problema é: “como vou dizer para minha mãe que não aguento mais lidar com os problemas financeiros que ela cria?” ou então, “mas e eu posso dizer para o meu amigo que ele é chato e quer ter razão o tempo todo?”. O controle é para evitar estas atitudes que, no fundo, já estão dentro da pessoa há muito tempo apenas esperando uma permissão para saírem.
O que se teme, no fundo é agir com base naquilo que a pessoa sente. Muitas vezes, o medo de perder o controle é uma variação do medo de dar limites e agir de forma saudável. Muitas pessoas aprendem a carregar a carga dos outros nas costas e, para elas, é difícil sair do controle, que é a única forma de dar conta de fazer isso. É algo duro e pesado. É importante para elas abrirem mão disso e serem mais honestas com elas mesmas: ninguém gosta de carregar o fardo dos outros muito tempo. Assim, ao perder o controle, elas podem encontrar elas mesmas.
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