• 1 de julho de 2019

    Evitar emoções

    – Mas eu estou me sentindo bem.

    – Que bom, afinal de contas, isso poderia ser muito doloroso não?

    – Não sei, acho que não, porque você diz isso.

    – Às vezes, diante de um revés, a pessoa pode pensar algo como: será que eu não deveria ter feito ou não feito algo?

    – Pode ser…

    – Ou então, algo como: isso não deveria ter acontecido comigo… o que vou fazer agora?

    – Não gosto de ouvir isso.

    – O que você sente quando digo isso?

    – Raiva… fico irritado com você.

    A evitação emocional é mais comum do que imaginamos. Tendemos a contrair o corpo, distrair a mente e buscar nos afastar de nossas experiências emocionais que consideramos dolorosas. Porém, a evitação é justamente uma das formas de manter comportamentos disfuncionais que mantém os problemas que causam, mais tarde, as emoções negativas.

    Não é algo fácil, perder o emprego, terminar uma relação, sentir raiva de alguém que se gosta. As emoções despertam, também, nossas crenças e isso pode ser mais doloroso ainda. Por exemplo, ao fim de uma relação a pessoa pode pensar: “perdi meu amparo, o que será de mim agora?”, isto tem a ver com crenças pessoais. Assim sendo, o sofrimento que experienciamos nas situações nas quais a vida nos coloca, muitas vezes não é mesmo fácil, ele realmente dói.

    Por causa desta dor e de crenças como: “isso é insuportável”, “não posso sentir isso ou vou me perder”, “sentir isso é coisa de gente fraca”, tendemos a nos esquivar daquilo que sentimos. Enquanto ser humano, não posso dizer que a pessoa está “errada”, dói e eu já senti isso na minha pele. Porém, enquanto terapeuta, preciso ajudar a pessoa a entrar em contato com esta dor. Porque? Não se trata de sadismo de minha parte, mas sim, de um conhecimento de que o contato com a dor ajudará a pessoa a (1) perceber o conteúdo da dor (o que causa a emoção) (2) suas crenças e reações comportamentais sobre ela.

    Esses dois elementos são fundamentais para que ela possa efetuar mudanças em sua vida de modo a não precisar passar pelas mesmas situações sentido as mesmas emoções e tendo os mesmos pensamentos e comportamentos disfuncionais. Somos seres de rotina, tendemos à repetir, repetir e repetir nossos padrões, mesmo indo para situações diferentes. Deixar a esquiva de lado, nos ajuda a perceber como fazemos isso, como podemos parar e o que podemos fazer para ter uma nova experiência.

    Assim, a evitação das emoções não é um “crime”, mas é um comportamento que atrapalha a pessoa em seu auto conhecimento e restringe sua capacidade de dar respostas. É importante lembrar que só evitamos emoções que são difíceis para nós de alguma forma. Alguém pode ter dificuldades com a tristeza e dizer: “para que ficar triste?”, “não gosto de ficar triste”; outra pessoa pode evitar a raiva e outra o medo. Mas se ela se permite sentir, pensamentos negativos podem vir a sua mente, se perguntando se ela está fazendo a coisa certa, se não está perdendo seu tempo, ou se isso não é “perigoso”.

    Saiba que aceitar a emoção é fundamental. A tristeza, por exemplo, nos ajuda a ver aquilo que é importante para nós. Pessoas que não gostam de tristeza, podem sentir ansiedade em relação às suas metas, por exemplo, justamente por medo de não “chegar lá” e “sofrer”. Mas se a tristeza é aceita, assim como a frustração, é possível manter focos em perspectiva. Outro evento é que ao negar tristeza, ficamos frios em relação aquilo que perdemos. Mas isso pode reforçar os comportamentos que nos levaram a perder e aumenta a chance de perder de novo. O que não é bom negócio.

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