• 8 de janeiro de 2020

    As ideias e as verdades sobre uma relação

    – Eu não sei mais porque estamos juntos Akim!

    – Sabe.

    – Aquele negócio de ela querer um capacho e eu gostar de ser um?

    – É.

    – Mas não pode ser assim.

    – Claro que pode. Está sendo. Você mesmo já viu isso em mais de uma relação.

    – Mas não me faz bem isso Akim!

    – Até aí, ok. Porém, não se trata de dizer “não gostei”. É uma questão que tem a ver com a sua pessoa. Sua identidade.

    – É difícil isso.

    – Sim, é, mas veja: com tantas pessoas, porque exatamente ela?

    – Porque  me complementa.

    – Ela ajuda você a realizar a sua auto imagem. Sei o que você pensa sobre isso, mas não é esse pensamento que guia suas ações.

    – Eu entendo.

    Hoje tendemos a analisar as relações como transações comerciais. É realizada uma análise dos benefícios concretos que elas trazem baseada em uma percepção prévia sobre como uma relação deve ser. Com base nisso, as pessoas acreditam que terão facilidade em definir se vão ou não se manter dentro de um relacionamento. Como psicólogo, sei que esta realidade é muito diferente, pois estas ideias terminam por não servir tão bem quanto as pessoas acreditam que vão.

    Bauman nos traz a noção de que a lógica de mercado está sendo aplicada aos relacionamentos humanos. Olhar para alguém como uma fonte de prazeres e afeto pode ser algo comum hoje em dia, mas isso está longe de ser o definidor sobre a verdade das relações humanas. Um fato simples, mas sempre ignorado: queremos nos relacionar. Buscamos o contato desde que nascemos, somos projetados para buscar contato e vida social. Este simples fato quando considerado em sua plenitude já começa a mudar a ótica. De objeto de consumo passamos para seres.

    Outro fenômeno importante é a realidade interna. As pessoas querem acreditar que se tiverem uma boa ideia sobre o que deve ser uma relação, isso bastará. Porém vejo dia após dia no consultório que as pessoas, independente das ideias que tem sobre relações, terminam por escolher pessoas que se encaixam, de alguma maneira, em sua auto imagem. O mesmo vale para os comportamentos que assumem na relação. É um fato pouco divulgado que, muitas vezes, pessoas com ideias muito fortes sofrem muito nas relações por não se permitirem ver o que está diante de seus olhos.

    Pessoas mais “pé no chão”, ou “simples”, muitas vezes sacam a natureza da relação de forma mais rápida e reagem à isso de maneira mais adequada. Elas não tentam entender, apenas reagem ao que ocorre. Esta é a diferença entre as ideias que temos sobre uma relação e a verdade sobre ela. As ideias podem ser bonitas, mas o que vale não é isso, mas a prática. É naquilo que ocorre entre duas pessoas que se entende a verdade sobre sua relação e não naquilo que pensam. É difícil, porém, abandonar as ideias que temos e ver, cruamente, o que fazemos em nossa vida.

    “Olhar a verdade” é prestar pouca atenção ao que as pessoas dizem que “querem” da relação e muita ao que “fazem” de fato. O querer, muitas vezes é apenas um mecanismo de defesa. É algo que a pessoa usa para não assumir o que realmente sente e faz. É mais importante notar o que realmente acontece e sentimos, pois, muitas vezes isso pode ir contra nossas expectativas. Ao ser honesto com a realidade a pessoa pode sair do discurso e analisar o cotidiano.

    Este post é dedicado a ajudar as pessoas a compreender situações “sem sentido”, nas relações. Tudo faz muito sentido quando se deixa de lado ideias pré estabelecidas sobre como a relação deve ser. O que ocorre em uma relação é mais profundo do que o nosso desejo de que todas as relação devem ser lindas e produtivas. Nas relações vemos toda a extensão da natureza humana, desde o mais belo até o mais terrível. Não se pode negar esta realidade, mas aceitá-la, pois somente assim é possível fazer algo com isso. Negar, excluir ou negligenciar tais realidades apenas nos leva a perpetuá-las.

    Abraço

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