– Eu não consigo esquecer disso!
– É um pouco mais profundo que isso. Neste momento, você não pode esquecer.
– Porque não?
– Também não sei, mas é o que vejo. É a sua decisão. Tente perceber o que você realmente quer ao manter essa memória ativa.
– Acho que quero esquecer disso, resolver isso.
– Precisamente. Então, como você deseja mudar essa imagem, não pode deixá-la de lado, entende?
– Sim, mas… isso já foi. Não tem como mudar mais.
– Exato.
O tempo é uma característica muito importante em nossa mente. Imaginamos o futuro e lembramos do passado. Todas estas imagens criam sensações e sentimentos dentro de nós. Essas relações são muito importantes, pois definem à longo prazo as histórias que contamos para nós mesmos.
Tendemos a imaginar o tempo como um fluxo do passado para o futuro. Como se fosse um rio, de onde a água nasce na fonte e desce até chegar no oceano. Nesta metáfora deixamos presente, passado e futuro cada um em seu lugar devido. Porém, será que aquilo que foi não tem um lugar no presente? Será que o que está por vir, não influencia aquilo que está aqui e agora? Quando pensamos no fluxo, será que os tempos podem ser realmente vistos como separados ou apenas como partes de uma só experiência?
A metáfora do rio pode ser útil. Quando entramos no rio, o que sentimos? Sentimos o fluxo. Não importa onde você está em um rio, você sente o fluxo dele como um todo. A força da água no seu corpo mostra de onde ela veio, isso é o passado. Esta mesma força também nos leva para frente e cria a tensão necessária para ficarmos no presente. Se você imaginar que toda a água que toca o seu corpo está em contato com todo o fluxo do rio, de onde ele veio e para onde está indo, sentirá que todos os tempos estão presentes ali naquele momento.
Assim são duas formas diferentes de experienciar o tempo. A primeira fala sobre dividir o tempo em momentos específicos. O segundo fala sobre entrar no fluxo. Nesta segunda perspectiva, aquilo que foi continua através da experiência. Aquilo que será, está através do desejo. Então, se pergunta: qual o lugar que dou ao meu passado? Qual o lugar que dou ao meu futuro? Este “lugar” é dado, sempre no presente. É neste momento que experimentamos tudo isso.
Ao sintonizar-se com a noção de fluxo, experimentamos cada movimento como parte do fluxo. Nesse sentido, passado e futuro não são “um tempo lá”, mas sim uma experiência “aqui”. O movimento que faço traz consigo todos esses momentos. Se vou em direção à algo, saio de um lugar e vou em direção à outro. Presente, passado e futuro se encontram ali. Mas no que isso nos ajuda? Ao olhar o que estamos fazendo hoje com nossa vida, em várias áreas podemos nos perguntar: em direção à qual tempo estou indo?
O seu movimento hoje pode estar indo em direção ao passado. A intenção pode ser, ainda, desejar concertar algo que já foi. Então, o movimento leva para trás. Ou seu movimento pode ir em direção ao futuro: “e agora, o que vou fazer?”. Quando o passado pode ficar no passado, ele se torna a força do rio que nos leva para frente. Porém, para isso, a pessoa precisa estar olhando para frente e sentir-se segura da força de seu passado. Enquanto ela caminha para trás, o fluxo do rio vai contra ela (ou melhor, ela contra o fluxo do rio). Se ela se solta e confia no que foi, pode olhar e ir para frente. E assim, passado, presente e futuro se fundem em prol da vida. E a vida vai, sempre para frente.
Abraço
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