• 11 de março de 2020

    Não julgue (a difícil arte de aceitar e se responsabilizar sem se punir)

    – Mas eu não me sinto bem com isso.

    – Sim, eu sei. É difícil mesmo. Mas procure não julgar isso.

    – Não consigo Akim. Esse negócio é ruim de sentir.

    – Ok, procure aceitar isso, então, também sem se julgar.

    – Aceitar que eu não dou conta?

    – Sim. É possível?

    – Nossa isso é pior ainda.

    – Tente, porque, embora difícil é a realidade.

    Muito se fala em não julgar. Porém é importante reconhecer o que isso significa de fato. A atitude mais comum que é deixar de lado, não significa a ausência de julgamento, pelo contrário, na medida em que as pessoas tentam ignorar aquilo que é difícil nelas, estão julgando de outra maneira.

    A ausência de julgamentos tem a ver com a aceitação. Já discorri sobre o assunto em posts anteriores, mas vale recapitular. Aceitar é experimentar algo tal como é. Se dói, dói. Se é bom, é bom e se é ambos ao mesmo tempo, que seja isso. Julgar equivale a dizer o que isso é em termos morais. A moral, no entanto, deve ser vista como aquilo que a pessoa considera, não se trata de uma moral social, por exemplo, embora ambas possam coincidir.

    É quando se diz, diante da dor: “isso é ruim”. Isso é um julgamento. Dor é dor. Dói, mas dizer que isso é ruim não é o mesmo que dizer: não gostaria de sentir isso. Observe as frases: “essa dor é ruim”, “sinto dor, gostaria de não sentir isso”. São diferentes. O efeito delas em nossa mente é diferente e as ações que ambas proporcionam também. A primeira julga e diz que dor é ruim, a segunda não, apenas atesta o fato de não desejar isso.

    A aceitação, porém, vai mais além. Ela diz: “sinto dor e aceito isso”. Ela não pensa no que “gostaria” ou não. Isso é uma forma sutil de julgamento. Ao aceitar a dor a pessoa também se abre à ela. Aí começa o segundo passo do ato de não julgar. Ao estar aberto para aquilo que ocorre em mim, também me abro para o efeito que isso tem em minha mente, emoção e comportamento. Ao me abrir à dor de uma perda, por exemplo, posso sentir, em breve, certo alívio ou que, no fundo, acabou. Isso me faz sentir triste e abrir mão do que se foi.

    Tão importante quanto não julgar a dor é não julgar sua consequência também. Assim há responsabilidade. A pessoa permite que o que está acontecendo dentro dela ocorra. Ao mesmo tempo, a experiência não termina aí, ela segue. Então se faz importante continuar junto com ela. Isso é assumir a responsabilidade. Fazer algo com a informação que você aceita. E também sem julgar, também sem dizer o que esse novo comportamento é ou deixa de ser.

    Não é fácil fazer isso. Não é o tipo de atitude “faça aí rapidinho”, não. É necessário tempo e força para que isso ocorra, é uma disciplina. Não se faz isso para que tudo acabe rápido, se faz isso por respeito à quem somos e as nossas experiências. Se faz isso pelo crescimento, mesmo quando ele não nos é prazeroso (e talvez, especialmente neste caso). Sem pressa, com respeito e carinho, aceitando (sem julgar) os limites que temos em relação ao que sentimos. Não é vergonha dar um passo para trás ou admitir “não consigo”, pelo contrário isso faz parte do desenvolvimento, é a partir disso que se cresce.

    Abraço

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