– Eu não me sinto bem em fazer isso.
– Sim.
– Mas sei que seu eu deixar de fazer vou me sentir mal também.
– Sim.
– O que eu faço.
– Aceite.
– Aceite?
– Olhe para isso, não há solução fácil. Ambas frases são verdadeiras.
– Mas tem que ter algo errado. Não pode ser assim.
– Não pode ou você gostaria de outra solução?
– (Silêncio)
– É difícil, eu sei. Porém não há nada de errado. O que ocorre é que são duas emoções ao mesmo tempo sobre o mesmo evento.
O mundo das emoções nem sempre é fácil de ser compreendido. Nos perdemos, no entanto, mais por desejar que elas fossem de determinada maneira do que pela natureza delas. Assim, ao invés de apreciarmos a realidade, ficamos presos à noções imaturas sobre “como as coisas devem ser”.
Quando uma pessoa diz “estou confuso”, em geral está se referindo à uma experiência paradoxal. Tendemos a acreditar que neste universo tudo ocorre segundo uma regra e com um resultado específico. “A” gera “B” e apenas “B”. A noção causal é uma das regras de nosso universo, mas não a única. Há mais entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia, já dizia o poeta. Então, um dos grandes problemas que temos em relação às nossas experiências emocionais é que elas não seguem essa lógica quadradinha. Porém, o problema não é delas e sim, nosso.
Emoções são processos complexos e se organizam de uma forma e em um tempo diferentes do habitual cartesiano. Um exemplo: é possível que uma cena vista hoje pela manhã seja percebida e sentida por você somente amanhã à noite e o gatilho que lhe faz sentir esta emoção pode ser algo que você nem sequer percebeu direito. É estranho pensar nisso, porque acreditamos que se o evento ocorreu agora, tenho que sentí-lo agora. Isso não é completamente falso, também ocorre, e muito, porém a natureza das emoções e sentimentos, mostra que ela pode se manifestar das duas maneiras. E de outras.
Voltando a confusão, ela nos invade, em geral, porque temos diante de nós uma situação na qual sentimos duas emoções cuja nossa forma de responder cria um cenário ambíguo. Exemplo clássico é o desejo de ir e ficar ao mesmo tempo. Ambos existem e ao mesmo tempo e estão “certos”. O problema é que queremos sentir apenas uma coisa de cada vez. As emoções não funcionam assim. Somos, então invadidos por duas ou mais emoções que nos organizam para várias ações conflitantes. O problema não reside em escolher qual é a certa ou a errada, mas sim em refletir além disso.
Ir além, neste caso implica em conhecer-se muito bem. É inevitável o confronto com as consequências. A questão repousa, então, sobre qual consequência me permitirei viver e de qual dou, realmente, conta. Obviamente nem sempre conseguimos escolher com esta clareza. Porém a tarefa emocional continua a mesma. Uma vez escolhido um caminho, lida-se com o que ocorreu. As experiências de várias emoções ao mesmo tempo, ao contrário de serem um problema, são, na verdade fonte de grande aprendizado pessoal, se você se der uma chance.
O que há para aprender com elas? Ora, emoções não surgem no vácuo. O que você sente tem relação com a maneira pela qual você vê o que está ocorrendo e se vê dentro disso. Perceber que existem muitas emoções significa que você vê muitas coisas em uma mesma situação. Aprender a aceitar isso tudo, dando sustentação aos vários sentimentos para então agir é fundamental para o desenvolvimento do adulto. Ser adulto, segundo Keleman, é conseguir dar conta de vários estados emocionais ao mesmo tempo. Não é fácil, mas é delicioso.
Abraço