– Eu já fiz e tudo. Não dá certo, não consigo! Não sei o que acontece.
– Ok, vamos olhar para essa sua empresa que não acontece. Olhe para ela. O que vê?
– Eu imagino um lugar muito legal, lucro e gente feliz ali trabalhando.
– E quem fica mais feliz com isso? Olhe além do seu sorriso. Para onde seus olhos estão olhando se olharem além da empresa, além daquilo que você está vendo diante de si?
– Eu não sei…
– Fique um pouco com isso… busque ficar aberto, nada mais. Não há algo certo ou errado para aparecer.
– Minha mãe.
– O que tem ela?
– Estou mostrando que dei certo. Mostrando que sou digno…
– Vejo que isso te emociona.
– … sim.
– Ok, vamos ficar com isso…
É uma pergunta constante: porque não consigo o que eu quero? Porque não consigo atingir os resultados que desejo? Porque nada dá certo para mim? Muitas respostas podem servir neste momento, muitas são as reflexões. Uma delas é sutil e dificilmente é feita: a serviço do que está isso que você deseja tanto?
Sempre que alguém não consegue algo, um passo comum (e necessário) é verificar se essa pessoa realmente tem um plano realista e competência para executá-lo. É muito comum que as pessoas queiram coisas, sem se colocar em ação ou com um plano grosseiro que dificilmente atingirá o alvo. Nestes casos, é importante dar um passo para trás e trabalhar com aquisição de competências, disciplina e organização e com a realidade.
Porém, existem pessoas que possuem competências, mas “a coisa não acontece”. Uma linha de reflexão sobre isso é a que trouxe acima. Ocorre que aquilo que desejamos é visto, na maior parte das vezes, apenas como um fim. O desejo por uma casa ou dinheiro, por exemplo, é visto apenas em relação ao que vai trazer. Mas tudo aquilo que desejamos também está ligado à nossa história pessoal, à maneira pela qual nosso próprio desejo é estruturado. De forma simples: desejar uma casa pode estar envolvido com medo de sentir-se fracassado ou com o desejo de conforto. A casa pode ser a mesma, mas as histórias, muito diferentes.
É muito comum aos filhos, por exemplo, desejarem ajudar os pais em suas vidas. Querem cuidar dos pais, dar-lhes conforto e prosperidade. Este desejo permanece dentro da pessoa, intocado e atuante durante muitos anos. E, de repente, a pessoa tenta abrir uma empresa. A empresa começa bem, mas logo emperra e vai mal. Atrás disso tudo pode haver uma dinâmica relacionada ao desejo infantil. Enquanto ele vê a vida dos pais igual ao que era antes, sente-se fracassado, sente que falhou. Logo, começa a tomar decisões erradas na empresa – que está a favor desse desejo infantil. Essa dinâmica pode levar a empresa à falência, visto que quanto menos a vida dos pais muda (afinal depende deles e não do filho), menos ele sente-se apto para dirigir a empresa.
Este tipo de dinâmica ocorre com uma frequência maior do que gostaríamos de admitir. O desejo pode ser traiçoeiro nesse sentido, por nos levar em direção à promessas e compreensões infantis. E então, a pessoa nunca olha para aquilo que há por detrás do desejo, apenas para ele, cega e rígida. Quando o desejo atua em direção à cegueira emocional, ele fatalmente nos leva à um fim trágico. Temos várias histórias sobre isso. Olhar para nosso desejo e ir além dele, olhando para aquilo que ele nos traz emocionalmente é um dos caminhos para compreender este destino.
Olhar além de nós e dos benefícios diretos do desejo. Este é o desafio. Olhar para a relação que ele cria em nossa história. Quem nos tornamos ao atingir o desejo? O que realmente muda? O que permanece enquanto algo não muda? Essas perguntas nos fazem refletir além do desejo. Essa reflexão pode nos mostrar o lugar que damos à ele em nossas vidas e isso pode nos dar respostas interessantes. Até mesmo chegar ao ponto em entender que o desejo que tanto perseguíamos, não é nosso, ou não nos cabe. Exige muita coragem fazer isso, mas também é possível.