– Eu estou muito ansiosa.
– Me fale um pouco sobre este sentimento.
– Ah, eu estou com coisas demais por fazer.
– E não sabe se vai conseguir né?
– É! É muita coisa, pouco tempo e parece que cada vez surge mais coisas sabe?
– Claro que sim. Mas isso não é ansiedade.
Compreender o que realmente estamos sentindo não é uma mera questão semântica. Cada emoção busca por classes específicas de repostas, quando damos uma resposta adequada para a ansiedade, mas nos sentimos sobrecarregados, a resposta “não ajuda” muito ou até piora a situação.
Ao mesmo tempo, é fácil confundir as emoções porque muitas vezes o que percebemos que estamos sentindo é apenas reflexo ou resposta de outra emoção que sentimos em primeiro lugar. Explico: começamos sentindo uma emoção, a percepção dessa emoção nos faz sentir outra – literalmente, estou sentindo uma emoção por ter sentido outra antes – e então só ficamos conscientes desta segunda. Porém, nestes casos é necessário lidar em primeiro lugar com a emoção original.
Ansiedade e sobrecarga são emoções que costumam causar grande confusão. Em geral, as pessoas começam se sentindo sobrecarregadas, ou seja, tem a percepção nítida de que estão fazendo mais do que dão conta de fazer. Isso é sobrecarga, não ansiedade. Porém, se a partir disso começo a imaginar um futuro nefasto no qual algo muito ruim vai ocorrer pela minha “falta de competência em fazer tudo”, passo a sentir ansiedade.
É possível que o oposto ocorra também: penso em um futuro ruim, e acredito que a solução para eu não chegar lá e evitar isso é me encher de coisas para fazer. Assim, cada vez mais tomo nos mãos atividades e tarefas. Em algum momento começo a me sentir sobrecarregado pelo excesso de tarefas. Neste caso, temos a ansiedade como emoção “primária” e a sobrecarga como reação. A ansiedade diferente da sobrecarga, tem a ver com perspectivas futuras negativas, possíveis que se aproximam de nós.
Assim sendo é sempre importante lidar com a emoção que estou chamando aqui de primária. No caso da ansiedade, precisamos compreender formas de lidar com a situação temida ou de refletir se ela é, de fato, algo a ser temido por nós. No caso da sobrecarga, é necessário perceber nossos limites reais e verificar do que vamos abrir mão ou como vamos hierarquizar as tarefas que vamos realizar. Como você pode ver são soluções bem distintas e este é o fato pelo qual, quando tentamos lidar com a ansiedade usando as estratégias da sobrecarga, o sentimento “não passa”, e vice-versa.
Quando estiver sentindo-se ansioso ou sobrecarregado, caso você seja uma pessoa que tenha uma rotina mais corrida, pergunte-se o que está vindo primeiro em sua mente: a possibilidade de um futuro ruim, de uma situação temida ou a percepção de que você está fazendo demais. Note que não se trata da sensação “mais forte”, mas sim da inicial. Isso porque tendemos a reagir à estímulos, sejam eles internos ou externos, e portanto precisamos identificar o que ocorre primeiro e não que se torna mais forte.
- Tags:Akim Rohula Neto, Auto-estima, Escolhas, foco, futuro, Insegurança, Medo, Mudança, Psicoterapia, Saúde mental, Tranquilidade, Vida