– Eu não sei o que fazer!
– Como não? Vimos na semana passada, você ainda saiu daqui empolgado com isso, lembra?
– Ah, mas depois eu fiquei pensando bem no que falamos e pode não dar certo!
– Claro que pode, mas qual o problema?
– Então, porque vou tentar algo que pode não dar certo?
– Porque isso “pode” não dar certo, mas o que você está fazendo é certeza que não dá. Então, porque você continua querendo fazer algo que sabe que não dá certo?
– É… bem…
A mudança não é fácil. Isso porque nossas atitudes, pensamentos e comportamentos não são elementos isolados e sem relação recíproca. A mudança de pequenos hábitos, muitas vezes envolvem grandes renúncias, assim sendo preferimos manter as coisas como estão. Mas como fazemos isso, “na prática”?
Creio que um dos mecanismos mais conhecidos e comentados seja a negação. É a “primeira linha de defesa” da neurose. Aquilo que não vemos, não podemos mexer ou mudar. Quando negamos algum hábito, comportamento, pensamento ou sentimento, tentamos excluir essa informação de nossa mente e consciência afim de não lidar com ela. Literalmente tentamos esconder algo de nós mesmos negando sua existência. Negando nos privamos de informações importantes sobre nós: o que nos incomoda e o que pode nos ajudar a mudar.
Outra forma interessante é a projeção. Com ela a pessoa “até percebe” algum problema, mas ao invés de assumir diz que o problema é de outra pessoa. Assim sendo, deixamos longe de nós aquilo que precisamos admitir e mudar, características – qualidades e defeitos – que nos definem. Para nos manter um pouco neuróticos, precisamos sempre culpar o mundo ou as pessoas – ou os dois – para deixar a nossa responsabilidade de lado enquanto seguimos com os mesmos comportamentos inadequados.
Dificultar as soluções é outra forma maravilhosa. Sempre que você encontrar uma solução para o seu problema, ao invés de aplicar para ver o resultado, questione e questione novamente. Duvide, imagine sempre o pior cenário possível até que seu desejo de aplicar a solução desapareça. Neste tipo de proteção, desconfiamos de tudo aquilo que pode ser novo, afinal de contas os resultados ruins e indesejados que estamos tendo são, pelo menos previsíveis.
E caso você seja ousado e faça algo novo, colhendo novos resultados? Afim de manter a neurose ativa, seja pessimista: “ah, mas eu levei sorte”. Desdenhar de nossos sucessos é uma ótima forma de sabotarmos qualquer tentativa bem sucedida de sucesso. Coloque na mente que “da próxima vez será diferente”, e comece a encher sua imaginação com muitas catástrofes oriundas de sua mudança de comportamento. Este tipo de estratégia é interessante também quando os outros falam sobre suas mudanças.
Por fim, para manter a neurose sempre ativa existe uma fórmula interessante que é acreditar – piamente – de que o ser humano “não muda”. Esta crença nos ajuda a sabotar todo e qualquer tipo de artifício que possamos criar. Se ampliada ainda à noção de identidade: “eu sou incapaz de mudar”, a neurose será mantida indefinidamente. A boa neurose alimenta sempre o vazio existencial e a angústia, assim sendo, manter a neurose também é manter uma boa dose de cinismo.
- Tags:Akim Rohula Neto, Auto-estima, Desejo, Emoções, Escolhas, futuro, Insegurança, Medo, Mudança, Psicoterapia, Saúde mental, Vida