– É que eu não sei direito porque faço isso.
– Me parece que você não sabe mesmo. O que aconteceria se não fizesse?
– Ah, sei lá… me dá a sensação de que algo ruim vai acontecer.
– E você não quer isso, quer?
– Não.
– Então talvez você passe o tempo todo olhando para este “algo ruim” e tente esquivar-se dele o tempo todo?
– Bem verdade isso…
É comum em terapia que as pessoas queiram executar mudanças de comportamento. A frase: “não quero mais fazer isso” ou “não quer mais ser assim” é frequente. Porém, poucas pessoas focam em um fator muito importante: a motivação que a leva para o comportamento.
Se formos pensar no ser humano enquanto um ser possuidor de intencionalidade, precisamos compreender que, de alguma forma, suas ações são motivadas por algo e tendem à algo. Em outras palavras: não temos comportamentos por mero acaso, em algum momento eles se tornam associados com um motivo e buscam atingir uma meta. Assim sendo, esses dois elementos são fundamentais quando realizamos uma análise do comportamento da pessoa, pois, muitas vezes, a verdadeira mudança está nestes elementos e não no comportamento em si.
Aquilo que motiva o comportamento tem raízes das mais diversas. Porém, nossas respostas à isso tendem a seguir alguns padrões. Afastamento e aproximação são dois exemplos. É comum que as pessoas relatem: “não quero ser visto como fraco”, por exemplo, este é um exemplo de motivação de afastamento. A pessoa percebe aquilo que não quer e guia seus comportamentos para fugir ou se afastar daquilo. Já na frase: “quero ser o melhor”, a pessoa organiza o seu comportamento em busca daquilo que considera “o melhor”.
Além disso temos também aquilo que percebemos como necessário para nossa vida, ou seja, algo que não pode faltar. É quando dizem: “eu tenho que fazer isso”, referindo-se à qualquer coisa. Já quando se pensa em termos de possibilidade o comportamento ganha mais flexibilidade e o que a pessoa percebe são as variações às quais poderá ter acesso. É quando se pensa: “depende do que acontecer, vou fazer isso ou aquilo”. Todos estes sistemas: afastamento, aproximação, necessidade e possibilidades podem estar combinados e constituem um “modelo básico” de nossas motivações.
Ao olhar um comportamento que queremos mudar ou adquirir é importante perguntar-se o que está me motivando à fazer isso? Quero alcançar algo com isso (aproximação)? Não quero ser visto com isso ou sem isso (afastamento)? É algo que é fundamental em minha vida agora (necessidade)? Vamos ver como será a vida assim (possibilidade)? Não há uma forma certa ou errada a princípio, todas elas causam efeitos em nós. É óbvio que se eu assumir uma perspectiva de necessidade, vou dar muito mais valor ao que pretendo do que se for apenas de possibilidade.
E é neste ponto que a análise da motivação se faz importante. Pois muitas vezes damos valores muito grandes à elementos que não são tão necessários ou alguns pequenos demais à elementos que são importantes. É o clássico: eu não gosto de ver ninguém triste, mas comigo é diferente. Para os outros a necessidade de ver alegria, para si, apenas a possibilidade. Algo está deslocado. Perceber isso é o que nos levará aos enquadres que temos em relação à nossa motivação, com tudo isso em mãos o processo de mudança começa a ficar cada vez mais completo.