– Mas Akim… eu não sei se eu quero fazer isso.
(fico em silêncio)
– Não vai falar nada?
– Não… não vou compactuar com a sua mentira.
– Porque está falando isso?
– Você sabe.
(silêncio)
– Eu sei o que eu quero.
– Ótimo. Qual o problema com o seu desejo.
– Eu não sei…
– Espere… “não sei” não é o correto neste caso.
– Eu tenho medo do que eu sei que tenho que fazer.
– Perfeito… agora sim podemos trabalhar.
Porque as pessoas mentem? Quando fazemos esta pergunta, em geral, pensamos no que motiva algumas pessoas enganarem as outras. Porém, o fato é que não mentimos apenas para os outros, também mentimos para nós mesmos.
Pensar que mentimos para nós mesmos é um fato importante quando pensamos na mentira. O fato é que o comportamento, por incrível que pareça, possui uma função adaptativa e evolutiva. Enganar um inimigo em uma guerra, ou enganar um animal para que ele caia na armadilha são comportamentos que ajudaram o ser humano a sobreviver. Como todo comportamento adaptativo o ato de ludibriar se especializou e assumiu formas muito mais refinadas, por exemplo, mentir para nós.
O problema em compreender isso é porque atribuímos um valor moral para a verdade e a mentira, assim sendo, entendemos como “ruim” mentir e “bom” falar a verdade. Porém, o fato é que muitas vezes não damos conta da verdade. Literalmente não temos maturidade suficiente para dar conta disso. Em outros casos, saber da verdade coloca a pessoa diante de decisões muito difíceis para ela, decisões que ela não conseguiria tomar ou que teriam um custo muito elevado após serem tomadas.
Desta forma mentimos para nós mesmos como um ato defensivo e protetor. É muito em comum durante o curso de uma terapia, quando a pessoa sente-se mais forte psiquicamente que algumas verdades “surjam”. Seja na forma de lembrança ou de perceber algo no ambiente, pois como a pessoa está mais forte, ela dá conta disso. Obviamente, nem sempre a mentira nos ajuda e, em muitos casos, a evitação tem um custo mais alto do que o enfrentamento.
Nestes casos, mantemos a mentira para evitar a decisão que já sabemos que precisamos tomar – muitas vezes, na verdade, a decisão já está tomada. Por vezes, mantemos a mentira como uma forma de manter a auto imagem que acreditávamos ter.. Um exemplo é quando uma pessoa precisa mudar seu comportamento e teme que ao fazê-lo, “os outros vão me ver de forma diferente”. Neste caso, a pessoa se mantém agindo da forma antiga por medo de perder a apreciação dos outros.
Assim sendo, é importante lembrar que a mentira contada por nós sobre nós mesmos sempre tem um aspecto defensivo, ou seja, ela sempre busca nos defender de algo. Porém, a reflexão importante é se esta defesa não está custando mais do que o enfrentamento. Pois neste tipo de caso, a mentira se torna disfuncional e não mais defensiva. Este é o momento de enfrentar nossas mentiras e aprender a ser mais honestos com nós mesmos. Ver a verdade pode doer, mas não ver a verdade vai doer com certeza.
Abraço