– Mas, sabe, não sei se vale falar disso.
– Porque não?
– Não sei, é algo tão pequeno entende?
– Sim. Então me conte em detalhes sobre isso.
– Sério?
– Sim.
Em geral, gostamos de fazer uma distinção entre as grandes coisas e as pequenas. Estas, preferimos desprezar, afinal de contas, são tão pequenas que não devem ter uma influencia muito grande. Assim sendo, tendemos a nos tornar cegos à elas e a sua importância. Porém, quando vamos fazer mudanças, onde reside o maior problema: na mudança de “pequenos” hábitos e implantação de novos.
O que acontece, e poucos parecem dar o devido valor, é que “pequenas coisas” são as que mais acontecem no nosso dia a dia. Você vai escolher sua carreira uma, duas ou três vezes ao longo de sua vida. Porém, irá trabalhar todos os dias em cima dela. Logo a maneira de se relacionar com o dia a dia de seu trabalho, acaba tendo um peso maior do que a escolha em si. O pequeno penetra em nossa mente, ele se torna parte de nós e se automatiza. Não nos damos conta dele e é por isso que ele se torna tão importante.
O pequeno se repete muitas vezes. Assim sendo, assume poder. Como é pequeno, não é visto ou percebido, assim sendo seu poder se torna ainda maior. Percebemos o “pequeno”, quando dizemos “eu sou assim”, “esse é meu jeito”. Ali é que ele se manifesta, pois o que automatizamos, tomamos como “nosso”. Na verdade, trata-se de um aprendizado, de uma série de minúsculas decisões, muitas das quais completamente inconscientes, que criam rotinas e estas mantém uma maneira de se ver no mundo.
Perguntas “boas” em terapia, quase sempre se referem ao óbvio. Em geral, quando um terapeuta faz uma “boa pergunta” o cliente se sente um tanto “bobo” ou “infantil”, porque geralmente essas perguntas levam a pessoa refletir sobre os motivos e as formas pelas quais ela sempre pensou algo da mesma forma, sentiu algo com o mesmo sentimento ou agiu de mesma maneira, mesmo percebendo que aquilo não a ajudava. Essas perguntas versam sobre o que? As coisas pequenas.
Se nos colocássemos em um experimento de conscientizar-se sobre pequenas decisões e refletir sobre elas poderíamos realizar grandes mudanças em nossas vidas. Digo isso, pois é assim que ocorre com terapia. Pequenos passos. Porém, o que as pessoas querem, em geral, é uma mudança completa em todos os níveis. Nunca vi isso acontecer. E porque não? Porque o “grande” se sustenta no pequeno. Se a pessoa vem uma grande questão, e a “resolve”, mas as pequenas continuam intocadas, elas vão reagir. É o que chamam de “auto sabotagem”.
Um exemplo: um pequeno comportamento é se questionar sobre o motivo pelo qual você está fazendo o que está fazendo. Se pergunte: o que me motiva à tomar este café? O que me motiva a comer esta comida? O que me motiva a dizer isso para esta pessoa neste momento? O que me motiva a não fazer isso que eu deveria estar fazendo? Isso é algo pequeno, não peço nem que faça algo em relação à pergunta. Apenas a pergunta. Ora, este minúsculo comportamento, já lhe trata muita informação sobre si. Ele, inclusive, é a base do que chamam “auto conhecimento”. Coisas pequenas, porém de grande poder.
Abraço
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