• 22 de julho de 2020

    Cade o problema que estava aqui?

    – Mas e o que eu faço?

    – Vamos olhar para isso novamente. O que aconteceu?

    – Aconteceu que a gente terminou.

    – Certo. E isso é algo que ambos estão de acordo, não?

    – Sim… é triste… mas é isso mesmo.

    – Perfeito. Então te pergunto: “o que eu faço” com o que?

    – Essa tristeza.

    – O que você acha que tem que fazer com ela?

    – Não sei… dói sabe?

    – Sim. E é isso.

    – É isso?

    – É.

    – Hum…

     

    Nossa mente tem a tendência para criar problemas. Isso significa que nosso raciocínio tem o hábito de olhar para o mundo e tentar interpretá-lo como um problema que precisa ser solucionado. Esse modo de funcionamento é bom quando temos um problema para resolver, porém ele nos confunde quando não há nada a ser feito, ou ainda: quando nem sequer existe um problema.

    Quando queremos resolver um problema e ele existe, nossa mente entra em ação. Ela funciona muito bem nesse sistema de identificar problemas e tentar resolvê-los, esta é uma das nossas maiores “armas” evolutivas. O fato é que ela precisa de um problema para resolver. Se não existir um problema, ela continuará operando “como se” ele existisse, mas isso pode ser altamente desvantajoso para nós. Pior ainda: isso pode nos criar um problema de verdade.

    Então o primeiro ponto é ver se realmente existe um problema, ou se estamos querendo ter um problema para evitar algo. Esse fenômeno é muito comum em terapia. No trecho que coloquei no início do post, o ponto era justamente esse. A pessoa queria “fazer algo” com a tristeza. Mas o que há para fazer com ela? A pessoa sentia-se triste pelo fim de um relacionamento, não há nada para fazer com isso. “Fazer algo” significa criar um problema onde ele não existe. Em geral, fazemos isso para evitar a dor, ou alguma decisão difícil que temos que tomar.

    Se olharmos para a tristeza, oriunda de um fato – como o término de uma relação ou a morte de alguém: o que há para ser feito com ela? Nada. Apenas sentir. Esse é outro “modus operandi” de nossa mete com o qual não estamos muito habituados. Trata-se de contemplar, abrir-se para um fenômeno sem a necessidade de inferir ou operar sobre ele. Se existe a possibilidade de ficar triste e passar algum tempo triste, nota-se que não há nada para ser feito, ou seja, nenhum problema em estar triste. Pode ser doloroso, sim, mas isso não significa que há algo de errado ou algum problema.

    Evitar a dor ou uma ação indesejada é o que nos leva a criar problemas desnecessários. Em geral, as pessoas tem consciência de que estão evitando algo. Essa é a conclusão que chegam quase sempre durante a terapia. No fim, percebem que já sabiam que algo havia acontecido e sentem-se tristes, culpados ou com medo disso. Então passaram a tentar bolar um problema afim de evitar isso. É difícil, pois a mente rebela-se:”como assim você vai simplesmente sentir dor? Não pode, tem que ter algo que possamos fazer”.

    Um ponto que sempre trabalho com meus clientes é que a dor faz parte da vida. Não é uma escolha, por mais que a mídia e livros de auto ajuda sensacionalistas queiram que você pense assim. A dor faz parte e não há nada de errado com ela. Dor e sofrimento não são problemas para serem resolvidos, são partes constituintes de nossa natureza. Quando aprendemos a dizer “sim” para isso, nos abrimos à um novo nível de perguntas e de percepção da realidade. Algo muito mais profundo e que eleva nossa vida.

    Abraço

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