– Isso não faz sentido nenhum Akim.
– E ainda assim, é isso que está acontecendo.
– Mas, porque eu vou querer fazer algo contra eu mesmo?
– Não sei, me diga você.
– Eu não quero.
– Não sei se você “quer” ou não, sei que é o que acontece.
– Eu não posso aceitar isso.
– É difícil?
– Sim né? Pense: eu faço algo que me prejudica, como vou aceitar isso?
– Sendo honesto consigo mesmo. Não sei o que motiva isso, porém, sei que isso precisa ser visto. Ao negar, você não verá. É difícil ver, concordo, mas ainda assim, é aí onde poderemos encontrar algo verdadeiramente útil.
– Eu entendo você, mas é muito difícil aceitar isso.
Tendemos a achar que somos seres racionais. Nessa lógica, sempre buscamos o melhor para nós em todas as situações. Excluímos emoções, conflitos e desejos deste “ser racional” e a única coisa que conseguimos com isso é um monte de confusão em nossas cabeças. A honestidade consigo nos faz olhar para aquilo que negamos, nem sempre fácil, porém sempre rico.
Ser honesto significa agir sobre aquilo que existe. A honestidade não fabrica uma verdade, apenas anuncia aquilo que já está ali. Isso é um problema para nós, seres humanos. O problema é que para nos compreendermos precisamos criar histórias em nossa mente, ou seja, criamos uma ideia de “quem somos”. Não importa se você se acha uma pessoa ótima ou a pior pessoas do mundo, tudo isso são conceitos em sua mente, ideias que você usa para justificar e explicar a sua experiência nesse mundo.
O problema é que essas ideias, geralmente empobrecem a pessoas que somos. Começamos a nos tratar pelas ideias e não pela experiência. Assim, aquilo que penso que sou se torna mais importante do que aquilo que experimento sobre eu mesmo. Ocorre sempre: a pessoa chega ao consultório e me diz que achava que ela “era de um jeito”, mas que sentiu-se de outro. A experiência é muito mais ampla que nossas vagas ideias, logo, ela nos apresenta para algo que não conseguirmos conceber sobre nós e o mundo.
A atitude “honesta”, olha para isso. Ela vê a experiência tal como está acontecendo e não para as ideias que temos sobre o que deveria acontecer. Porém esta honestidade conflita com a nossa percepção de eu. A história que nos contamos diz: não pode ser assim! A honestidade diz: eu entendo, mas veja: é assim. Diante desse conflito é que reside a difícil escolha entre assumir aquilo que penso sobre o mundo ou assumir a experiência que estou tendo do mundo, mesmo que ela contradiga minhas ideias.
Esta é a difícil escolha da honestidade consigo: abrir-se para ver aquilo que difere da história que conto sobre eu mesmo. Estar aberto à minha experiência do mundo, ao invés de minhas ideias sobre o mundo. Ela é difícil porque envolve uma atitude consciente de aceitar que nossa visão do mundo e de nós mesmos, por “melhor” que seja, é, ainda assim, limitada e incompleta. Assim sendo perdemos valor enquanto criadores da verdade e ocupamos um lugar “mais humilde” sobre nossa própria concepção de quem somos.
A perda do controle rígido sobre o que somos e o que o mundo é, de outro lado, nos abre para muitos eventos cuja importância em nossa vida é muito maior do que nossa limitada percepção. Isso ocorre o tempo todo em terapia, as pessoas chegam com uma visão de si e saem com outra muito diferente. Perderam uma história e saíram com outra mais completa. Nem sempre aquilo que dizemos querer é o que realmente precisamos e ser honesto conosco nos abre para a possibilidade de ver isso.
Abraço