– Eu achei que todo mundo ia ficar brabo.
– O que te fez pensar isso?
– Bem, eu não sei direito, mas… é assim entende?
– Não muito bem, o que você quer dizer com “é assim”?
– Não sei. Ma parece que eles vão ficar brabos.
– Eles ficaram, de fato?
– Não sei, não falei nada.
– Ah, então o que você fez foi “pensar” que eles ficariam brabos, ou seja, você imaginou, é isso?
– Sim.
– Ok, então pare por um momento e perceba que tem uma diferença entre isso que você pensou e o que de fato poderia ter ocorrido.
– É estranho pensar nisso.
É um fato que nosso pensamento orienta nossas ações, porém saber a diferença entre aquilo que pensamos e a realidade é muito importante. Quando não fazemos esta distinção, acabamos criando realidades onde elas não existem e perdemos nossa capacidade de agir espontaneamente.
Todos nós sabemos criar cenários em nossas mentes. Imaginar várias situações nas quais nosso comportamento pode gerar uma infinitude de consequências. Pensar nas respostas que os outros vão dar e imaginar a nossa própria resposta em relação à isso. É possível passar muito tempo imaginando isso e todo autor de livros sabe como esse processo funciona. Literalmente, somos capazes de criar histórias completas me nossas mentes. Porém, estas histórias são apenas histórias.
É importante saber traçar, adequadamente, a linha entre as histórias que criamos e a realidade. Em outras palavras é importante saber perceber que um pensamento é um pensamento e nada mais do que isso. Mesmo que o ato de pensar nos leve à uma situação muito próxima daquilo que realmente acontece, ainda assim, existe uma diferença entre o que sentimos ao pensar e ao vivenciar algo. É como imaginar o frio em pular numa piscina de água fria e depois pular: a água será fria, mas a sensação antes de pular é diferente do frio que realmente sentimos na pele e músculos.
Conhecer esta diferença nos permite saber que estamos fantasiando algo e, com isso, fazer uma diferença entre o pensar e o que realmente pode ocorrer. Quando não fazemos esta distinção entramos naquilo que se chama de “fusão pensamento-realidade”. Nesse estado cremos que aquilo que pesamos é o real e passamos a agir em detrimento daquilo que pensamos mesmo que isso não seja um fato real. Em outras palavras, num estado de fusão, a pessoa reage ao que ela pensa e apenas à isso. Se a realidade mostrar algo completamente diferente, ela nega a realidade e age em prol de seus pensamentos e julgamentos.
Este estado de fusão, longe de ser uma patologia, trata-se de algo que podemos vivenciar no dia a dia. Nem sempre ficamos 100% atentos ao real, assim sendo todos nós usamos um pouco deste estado vez ou outra, o que é normal. Porém, quando nossa leitura do mundo se sobrepõe ao mundo o tempo todo teremos problemas de compatibilidade. É importante, num processo de terapia, que o terapeuta ajude a pessoa a perceber que ela está tomando seus pensamentos como a realidade e frear este processo distinguindo um processo (pensamento) do outro (realidade).
Com isso é possível entender que estamos pensando algo sobre o mundo, mas que este ainda detém a primazia sobre o que, de fato, vai ocorrer. Se for possível nos abrir ao mundo, torna-se mais simples ver os resultados de nossos comportamentos. Abrir-se para ver o que é, tal como é ao invés de julgar aquilo que vemos de acordo com nossos pensamentos é uma atitude fundamental para que possamos pensar em histórias, mas viver a vida.
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