– Mas eu não estou muito satisfeito.
– Porque não?
– Ah, depois que eu disse que fechei o pós doutorado, ele ainda me olhou com aquele mesmo olhar sabe?
– Qual?
– A desaprovação, a mesma de quando eu tinha sei lá… seis anos de idade. Será que ele nunca vai mudar?
– Não sei, será que você, um dia também vai?
Podemos encontrar as forças para motivar nosso comportamento nas mais variadas fontes. Porém, vale lembrar que toda fonte ao mesmo tempo que motiva a ação também a limita. Cada forma de motivação faz mais do que criar um movimento, ela cria um movimento “para algo”, assim sendo, compreender o que se deseja com aquilo que se faz é fundamental para que nossa ação seja livre.
Para compreender melhor este ponto, vamos analisar o caso de muitas pessoas que tem a frase: “vou te mostrar”, ou “vocês vão ver” como fonte de sua motivação. Em geral este tipo de atitude se forma muito cedo e tem como ponto de partida o desejo de que o outro, através de alguma conquista da pessoa, mude sua percepção sobre a pessoa. Em outra palavras, se resume da seguinte forma: se eu fizer x, você pensará y de mim. Esta fórmula, porém, contém um elemento muito nocivo que se segue de forma encoberta: eu só poderei pensar y de mim quando você o fizer.
De um ponto de vista, porém, este tipo de motivação funciona. Ele, por si só, não é inadequado. Existem situações em que este tipo de motivação é perfeita. Competições ou provas são o cenário ideal para isso. Se a pessoa, por exemplo, correr 100 metros em menos de 9 segundos, ela terá um recorde mundial. Ela nos faz querer mostrar algo para alguém afim de mostrar nosso valor. Em outra fórmula, isso pode ser visto como seu negativo, ou seja: “vou mostrar que não sou y”. Neste cenário o esforço é no sentido de provar-se diferente de uma noção já estabelecida.
Qual o limite deste tipo de motivação? Embora potente, este tipo de motivação encerra em si o “ônus da prova”. Se não estamos em um cenário muito claro onde as regras estão muito bem definidas, isso pode ser uma tragédia. Isso porque (tomando o raciocínio do primeiro parágrafo) busca-se “x” afim de tornar-se “y” para o outro, porém não se sabe, ao certo, se o outro fará isso caso “x” ocorra. Ou pior: “x” nem sequer era necessário, pois a pessoa se recusa a pensar “y” de você.
Trocando em miúdos: nem sempre as pessoas mudam seu pensamento sobre nós. E nem sempre acham algo de nós em detrimento do que fazemos. Muitas vezes pensam mal (ou menos) sobre nós por relações que não se fazem claras. Assim sendo, a prova se torna impossível de ser conquistada pela indisponibilidade do outro em ceder a certificação. Ainda mais, no caso da prova, tem-se outro problema. Aquele que precisa provar “não tem” algo. Porém, em situações de auto conceito, se a pessoa não toma posse de determinada noção de si na relação com o outro, este não poderá fazê-lo por ela. Então a pessoa tem que provar-se sempre.
Este é um problema que chega, até a limitar a ação da motivação, que, em determinado momento, começa a se mostrar insuficiente, ou seja, a pessoa percebe que por mais que faça algo, não muda sua auto imagem. Porém, credita o problema ao que faz e não a sua motivação, ou seja, ao “para que” faz. Então a pessoa quer ter estabilidade financeira para provar algo ao pai, mas não sente que sua relação com o pai muda. Logo ela desiste de sua estabilidade ao invés de desistir do motivo pelo qual atua e colocar-se como: “quero eu viver bem com meu dinheiro”.