– Eu não sei mais o que fazer com ela.
– Sim, é uma situação difícil mesmo.
– O que eu faço Akim?
– Não sei.
– Não sei? Ponto, é isso?
– O que você espera que eu lhe diga?
– O que fazer.
– Ok: deixe ela se virar, a partir de agora, deixe ela 100% responsável pelo sucesso ou fracasso dela.
(silêncio)
– Você está doido? Como eu vou deixar ela fazer sozinha?
– Bem, ela não tem nenhum problema psiquiátrico, físico ou algum déficit de inteligência tem?
– Não.
– Então…
– Eu não consigo.
– O problema em ajudá-la é que você não quer ajudá-la. Quer fazer por ela. Esse é o seu desespero: você faz “tudo” e ela não continua. Mas se você já fez “tudo”, o que resta à ela? Exatamente o que ela faz: nada.
Ajudar os outros é algo importante. Porém ajudar alguém é uma atividade que precisa de muito cuidado por parte de ambos os lados. Quando a ajuda é grande demais, não ajudamos mais ninguém, criamos relações de dependência. Estas relações acabam criando novos problemas, e estes nenhum dos dois lados consegue resolver.
Sou um profissional da ajuda. Psicólogos, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais tem uma grande demanda relativa à ajuda das pessoas que os procuram. Por este motivo, o tema é estudado, pois ajudar alguém é uma tarefa que requer cuidados. A partir do momento que se cruza a linha entre ajudar e “fazer por”, comprometemos o processo de ajuda de maneiras, muitas vezes, irreversíveis. O fato é que existe um abismo enorme, embora sutil, entre ajudar e “fazer por”.
O primeiro tem a ver com receber a demanda de alguém a respeito de alguma dificuldade. A ajuda sempre começa assim. Recebemos um pedido por ela. O pedido é importante porque ele estabelece a relação e quem pede ajuda sabe que precisa dela. Muitas pessoas pecam neste quesito querendo ajudar quem não quer ajuda, ou então, percebem a dificuldade de outra pessoa, imaginam a solução e querem que o outro opere a solução que eles imaginaram. Chamam isso de ajuda, mas, de fato, é invasão. Às vezes, isso dá certo, pode ser benéfico à ambos, porém é importante diferenciar uma atitude da outra.
O segundo passo tem a ver com delimitar como a ajuda será dada. Quem ajuda é um auxiliar, assim como quando se ensina a criança a andar sem rodinhas: é ela quem tem que criar o equilíbrio, ninguém pode fazer isso por ela. Apenas apóia-se ela com a mão para facilitar o processo, mas é ela quem se equilibra. Assim que se percebe que o equilíbrio foi atingido, largamos, deixamos a pessoa andar por si. Apenas olhamos ao longe como um porto seguro no caso de uma queda.
Isso nos leva à outro ponto: o ajudador é um ator coadjuvante e não o principal. Ele apenas presta um auxilio e se retira. Assim tem-se ajuda. Então quando a pessoa acha que ela é muito importante para o outro e que sem ela o outro não vai conseguir, deixa de ser ajuda. É outra coisa. Pode ser uma relação de ensino de algo muito complexo, de real dependência ou de carência por parte do outro. Nesses casos não ajudamos, prestamos um benefício ao outro, damos, literalmente algo para ele. Neste caso quem presta o serviço é o ator principal. O outro apenas recebe, isso não é ajuda.
Não há problema em “fazer pelo outro”. A questão é quando este comportamento se confunde com “ajudar”. Existem momentos em que precisamos que alguém faça por nós e é ótimo poder contar com isso. Porém se esse comportamento se torna padronizado, surge a dependência disfarçada de ajuda e boas intenções. Isso não é bom para ninguém, pois além de não resolver o problema “de fato” (a dependência de ambos) ainda faz com que reais problemas e necessidades fiquem escondidos atrás da máscara de pessoas boas que ajudam.