– Eu não sei se quero olhar isso.
– Tudo bem, não precisa.
– Mas como não? Vim aqui pra isso não?
– Talvez não. Talvez até o momento tenha vindo para ver que não dá para ver isso ainda.
– Ah, mas não deveria ser assim… me sinto até meio envergonhado de dizer para você que eu não quero ir mais afundo.
– Entendo. O que eu vejo é que isso é difícil para você. Você quer que eu te force a ir além ou que eu respeite esse limite?
– (com lágrimas) Eu quero dizer que quero que você respeite, mas não sei se consigo.
– Vá com calma… nós resistimos porque temos medo e é normal isso, olhe para o seu medo, veja se consegue respeitar isso em você.
– Sim.
– Ótimo… ficaremos por aqui então.
– Sim.
A palavra “resistência” em terapia possui uma conotação negativa. “Você está resistindo” é algo que soa, quase sempre como uma acusação. Porém a resistência, ao contrário do que se popularizou não é um julgamento pejorativo e muito menos algo que você precisa “a todo custo” quebrar.
Ocorre, também, que nunca resistimos “por acaso”. A resistência surge como um grande e implacável “não” em nossa mente. O desejo veemente de negar aquilo que está sendo dito por alguém ou percebido por nós mesmos. Ocorre com a interpretação que o analista faz ou com o sentimento que sentimos em nosso dia a dia. Dizemos “não” para a experiência, um não proibitivo que nos nega acesso a qualquer coisa que possa advir dessa experiência.
É por este motivo que a resistência se tornou um sinônimo de acusação ou uma classificação negativa da pessoa que está neste processo: “porque eu iria querer resistir contra a minha própria evolução? Não, eu não estou fazendo isso”. Mas não é contra a evolução que resistimos, é contra a dor que vem com ela. Nenhuma verdade surge de graça, mas por vezes o preço é doloroso demais. Resistimos. A consequência que a verdade traz não é sempre fácil de ser digerida e o conhecimento, sem preparação pode ser tão danoso quanto a mentira.
Então resistimos. Resistimos para não mergulhar de cabeça, pois não vemos o fundo da piscina, será ela funda o suficiente? Aceitar a resistência, no entanto, é aceitar que encontramos algo no meio do caminho. “Achamos a pedra”, então podemo dizer não para ela. E isso não é errado, não há nada de ruim nisso. Pelo contrário: faz parte. E então vem a pergunta: “porque não? Porque é importante negar esta experiência?” Essa é a atitude de respeito. Ao dizer sim para a resistência já estamos dizendo sim para a nossa evolução, é ela quem nos faz resistir.
Resistimos ao chamado da aventura, como diria Joseph Campbell. Zeus, na mitologia disse não quando Gaia lhe disse que deveria destronar seu pai Cronos: “sou fraco”, o futuro senhor do Olimpo disse. E então ela pode se fortalecer. Resistir não é andar para trás, como muitos pensam, é andar para frente. Enquanto digo “não” para algo, estou olhando para este algo. A força vem quando aceitamos nosso medo dela e de suas consequências, quando percebemos que ainda não somos fortes e podemos lidar com isso. O exército de Zeus surgiu por causa de sua fraqueza e não de sua força.
Assim sendo a aceitação da resistência é um fator fundamental para qualquer processe de terapia. Muitos terapeutas dizem acertadamente: vamos para a terapia para resistir. De certa forma, sabemos o que precisamos fazer, mas não é fácil, somos fracos, medrosos e nem sempre conseguimos sozinhos. Por isso vamos e resistimos. Dizer não à algo que pode nos levar a cura é importante para compreender o motivo pelo qual fizemos esta escolha anos atrás. Compreender este motivo nos ajuda a escolher novamente e esse é o caminho daquilo que cura.
Abraço