– Não me sinto bem com isso.
– Sim, tente olhar para essa raiva que sente. O que há nela?
– Só coisa ruim.
– Sim, olhe para estas coisas ruins… o que elas são?
– Vontade de bater, machucar alguém…
– Isso, olhe para isso. De onde vem esse desejo? O que há nesse desejo? Você quer machucar fortuitamente?
– Não! Eu não sei bem o que é isso… mas está aí… e me dói demais.
Há algo que não se diz sobre a raiva: existe medo dentro dela. Tendemos a olhar para comportamentos estranhos e agressivos e julgar a raiva como ruim por causa disso. Porém esta analise superficial não olha para dentro da emoção raivosa para ver que algo a mobiliza, algo muito poderoso.
A raiva é uma das emoções mais poderosas. Porém, sua função é mal compreendida e geralmente aprendemos a ter medo dela ao invés de olhar para ela. Este sentimento pode assumir a forma do desejo de destruição de pessoas ou coisas e podemos nos comportar dessa maneira. O problema, como sempre coloco está na resposta que damos as emoções e não nas emoções em si. Olhar para a raiva exige, também, compreender aquilo que a desperta.
Em geral, tratamos da raiva quando somos impedidos de alcançar aquilo que nos é importante ou quando sentimos que alguém está, deliberadamente, indo contra o nosso bem-estar. A raiva, assim sendo, possui uma característica defensiva. Ela ataca, é fato, para defender algo importante. O medo que coloquei existir dentro da raiva reside nisso. A raiva não é por acaso, ela busca algo. Isto que é busca, a preservação da integridade do indivíduo é o ponto mais importante nesta emoção.
Quando olhamos para isso, podemos compreender algo além das imagens de destruição que a raiva no proporciona. Podemos ir além daquele desejo de socar alguém. E quando digo isso é perceber o caráter mais geral da emoção: defender. Quando dizemos: “quero socar aquela pessoa”, também dizemos: “essa pessoa está me causando mal, preciso me defender”. Este é o ponto mais importante, a função primordial do guerreiro que busca defender aquilo que ama.
Se esta compreensão se torna possível, mesmo os atos agressivos são feitos de outra maneira. Mesmo gritar com alguém assume novo aspecto, pois deixa de ser algo meramente pessoal, aqui os caprichos ficam de lado e o que entra em jogo é a defesa da integridade. É uma raiva que não deseja mal ao outro, apenas proteger a si mesmo. Esta raiva nos empresta força, ela nos dá flexibilidade. Esta raiva é diferente do desejo de vingança ou de birra.
A raiva madura se conhece. Ela compreende bem seus valores e entende o que precisa proteger, buscando, sempre, os melhores meios para isso. Não se trata de idealizar a raiva e crer que ela será sempre pomposa e linda, mas sim, que sua função mais importante sempre estará em primeiro lugar. A raiva, tida desta maneira, é uma importante emoção na elaboração da auto estima, inclusive. Saber defender seus desejos e necessidades faz parte de uma auto estima madura.