– Não posso.
– Porque não?
– Porque se eu quero ser independente, como que eu vou pedir ajuda? Ainda mais para o meu pai!
– De fato, de que maneira isso tem a ver com ser independente?
– Não sei, não faz sentido para mim.
– Há uma escolha aí, percebe?
– Sim.
– Então a questão é: de que maneira você vai resolver essa escolha?
Assim como tudo na vida, tornar-se independente também é um processo e possui “graus” de maturidade. A percepção disso nos auxiliar a ver o mundo com mais responsabilidade e, portanto, com mais força para agir e tomar decisões.
Onde reside a autonomia? Nossa sociedade confunde autonomia com onipotência. Assim sendo, buscamos ser literalmente independentes, como se dinheiro, poder e força fossem possíveis sem relação com o restante do mundo. Como se um comerciante pudesse vender seus bens sem ter um público que os compre. Por mais estranho que pareça, este o desejo da civilização ocidental: “não depender de ninguém”. É a deturpação da ideia de individualidade. A valorização do individual se deturpa e se torna o isolamento do indivíduo.
O primeiro grau da maturidade a ser superado é este. Pois não há maturidade, independência financeira ou emocional que não leve em conta relações com terceiros. Ninguém é isolado, todos somos interdependentes, isso é algo importante e maduro. Saber seus limites dentro disso é o segundo passo, ou seja, reconhecer nosso potencial de ação e os limites que temos. Emancipar-se tem a ver com os limites, pois é dentro deles que criamos nossa individuação.
O reconhecimento das origens é mais um grau. Em geral as pessoas querem negar suas origens para ir à frente. Porém a maturidade está em reconhecer e tomar isso para si. Ir adiante junto com a força daquilo que veio antes. Entender que apenas aceitando aquilo que deu, mesmo antes de nosso nascimento, os ladrilhos do pavimento de nossa vida e destino é que podemos fazer algo com nossas vidas é sinal de maturidade. A paz com o passado nos ajuda a ir para frente de uma forma plena e criativa, a luta contra ele, em geral, nos faz repetir o passado de uma forma diferente, mas ainda assim, preso a ele.
O ponto não é se precisamos das pessoas, isso é uma condição. A questão é como fazemos isso? Eu entro nas relações que me fazem crescer apenas sugando delas? Dando pouco ou nada em retorno? Eu me torno uma fonte que também ajuda os outros a crescerem ou o encontro comigo é apenas unilateral: eu recebo e o outro dá? Esta é a pergunta mais importante. Como peço ajuda, como a recebo e o que faço com isso mais tarde são oa fatores fundamentais e não ser isolado e “fazer tudo sozinho”, pois isso ninguém faz.
É a o rei dá aos filhos o mesmo tanto de ouro e sai em viagem. Na volta, um dos filhos gastou tudo, o outro guardou e entregou o mesmo tanto de outro ao pai. O terceiro investiu e fez o dinheiro multiplicar-se e para este é que o reino ficou. Não se trata de não receber nada de ninguém, mas do que fazemos com o que é recebido. Este é um nível elevado de maturidade, pois aceita a “dívida” mas com alegria e multiplica as dádivas ao invés de apequenar-se com elas. Emancipar-se é apropriar-se daquilo que já somos e fazer algo com isso e não negar quem somos para construir algo que não somos.