– Eu não sei.
– Sabe sim. Mas teme isso.
– Porque?
– Você sabe. Se parar de tentar arrumar a vida deles, o que acontece com você?
– Vou ter que cuidar da minha.
– Percebe que diz isso com um tom triste?
– Sim.
– Essa tristeza é algo de que você foge. Que tal aceitar isso?
Queremos ser fortes e potentes, “dar conta” de tudo o que aparecer na nossa frente. Porém, a realidade humana é muito diferente desse desejo. A onipotência não é uma característica humana, logo, é impossível estar “preparado para tudo”. A impotência, embora odiada, é parte fundamental da experiência humana, aprender a aceitá-la, por incrível que pareça, nos dá grande força.
O grande problema com o desejo de onipotência é que ele não foca algumas questões importantes, fundamentais à experiência humana e de solução de problemas, por exemplo: este é um problema que eu devo resolver? Eu tenho tudo o que preciso para resolver esse problema? Eu quero resolver isso? Estas perguntas ficam respondidas com um imperativo: “você tem que” ou “você deve”. Então a pessoa acredita que precisa dar conta de alguma coisa, mesmo sem se fazer essas perguntas tão importantes.
A impotência é um sentimento importante porque nos alerta para nossos limites. Hoje em dia não gostamos dessa palavra porque também não gostamos de limites. Buscamos negar algo básico em nossa condição existencial que é ser limitado. Porém, quando aceitamos a impotência, ou seja, quando percebemos que temos limites, algo novo se abre para nós. As frases “você tem que” e “você deve” perdem seu valor. O foco da mente muda daquilo que é impossível para aquilo que é possível. E aí encontramos força.
É paradoxal, mas verdadeiro. O encontro com a impotência também nos empresta força. Isso ocorre por causa de uma ilusão que criamos em nossa mente. Nesta ilusão, somos capazes de fazer aquilo que não somos ou que nem sequer nos cabe como arrumar o destino dos pais, ou mudar o pensamento de outra pessoa. Achamos que temos uma força que não temos, esta é a ilusão. Ao sentir a impotência, vemos a ilusão e podemos compreendê-la. Ao ver a ilusão, ganhamos a realidade e com ela, nossa verdadeira força, dentro dos nossos verdadeiros limites.
Isso não tem nada a ver com estagnar-se. Aceitar nossos limites e impotência não e sinônimo de estagnação. Pelo contrário, vejo pessoas que passam anos estagnadas buscando serem algo que não são. Apenas quando aceitamos nossos limites é que podemos evoluir e crescer, justamente porque percebemos onde podemos agir e o quanto podemos agir. Não nos cabe uma evolução infinita, apenas evoluir dentro daquilo que podemos evoluir. Reconhecer isso é, também, reconhecer o sentido de nossa vida. Você quer evoluir “tudo o que há para evoluir” ou evoluir aquilo que dá sentido à sua vida? São coisas bem diferentes.
Então, ao tomar para nós a impotência, também tomamos a vida com limites e com a força que vem destes limites. A impotência nos dá a força dentro do que podemos. Muitas vezes isso pode ser doloroso, como perceber-se incapaz de mudar a doença de alguém e apenas acompanhar esta pessoa para a morte. Em outros casos, libertador, como quando deixamos os pais viverem o destino deles sem nos responsabilizar mais por isso e em outros casos isso nos lembra do sentido de nossas vidas, como quando deixamos para trás responsabilidades que assumimos pelos outros e pela sociedade.