– E o que há de tão problemático em errar?
– Ah, ninguém quer errar né Akim?
– Quem quer aprender sim.
– Ué, como assim?
– Você consegue imaginar alguém aprendendo sem errar nada nunca?
– Não.
– Então, se quer aprender é importante fazer as pazes com o erro.
– Acho isso muito difícil.
O medo de errar é um medo comum. Obviamente, ninguém deseja errar pelas consequências negativas que isso logo traz. Por outro lado há algo em temer o erro que também nos impede de crescer. Neste sentido o medo de errar não tem nada a ver com o erro em si, mas sim, com outro elemento.
Para compreender isso é importante compreender melhor a natureza do medo. Esta emoção, uma das mais antigas em nossa espécie, reflete a percepção de que sofreremos algum tipo de dano. Assim sendo, o medo serve para nos proteger deste dano, seja atacando o elemento que poderá causá-lo ou fugindo dele, a conhecida reação de luta-fuga. O medo de errar, portanto, está alicerçado na ideia de que o erro é algo a ser temido, algo que pode nos prejudicar e causar danos.
O erro por si traz algumas consequências negativas, ao mesmo tempo ele também é um fator comum em processos de aprendizagem. O foco geralmente recai sobre a ideia de que tememos o erro por causa das consequências negativas do erro em si. Porém isso raramente se evidencia completamente. Em geral a pessoa teme algo além disso, pois mesmo que ela detenha um vasto conhecimento ou habilidade sobre algo, o medo de errar persiste.
Não e a consequência do ato de errar, mas sim o erro em si o que geralmente deixa as pessoas aflitas. O que causa dano em geral, não são as consequências do erro, mas o fato de ter errado. Em outras palavras o que é atingido é a auto imagem da pessoa e não as consequências de suas ações. Perceber-se como alguém passível de erro e que, portanto, precisa tomar cuidado com oo que pensa e faz é aterrador e doloroso para boa parte das pessoas. Não é fácil saber-se imperfeito.
Este é o medo de errar que paralisa. Pois trata-se de uma definição do tipo “ou/ou”, ou sou burro e erro, ou sou inteligente e nunca erro. Ou vou “mostrar aos meus pais” que eu sou melhor que eles, ou serei sempre pior que eles. Estes tipos de “contratos internos” nos fazem ver o erro como a prova de que “não vamos conseguir” ou “não vamos dar certo”. O dano neste caso é psíquico e se reforça à medida em que a pessoa precisa ser perfeita, ou a prova de “falhas” para satisfazer seu narcisismo.
Este medo pode ser resolvido pela aceitação do errar como algo humano e comum. Obviamente o segundo passo é a pessoa se identificar como um ser humano comum também. Em geral, esta é a parte difícil. Desejamos ser muito melhores, mas não somos. Essa percepção é muito dolorosa e a tememos. Ao mesmo tempo, quando ela se torna viável, um profundo sentimento de alivio e liberdade se faz presente. Pois aquele que erra, pode fazer aquilo que deseja e entregar-se ao seu próprio caminho. O perfeito não.