– Ah Akim… não sei, não via dar certo… me dá uma preguiça só de pensar.
– Bem, você já sabe o que é essa preguiça, não?
– Sim… eu sei que eu estou resistindo de novo… mas…
– Você tem uma escolha entre dizer “mas” e complementar algo para justificar a preguiça ou apenas ficar com o “estou resistindo”.
– É… está na hora de assumir que estou resistindo e ponto.
– Ótimo, isso é começar a confrontar. Perceba que você não está morrendo por fazer isso.
– Sim…
A dor é inevitável em nossas vidas. Mesmo assim, aprendemos a buscar evitá-la. Embora seja saudável evitar dor desnecessária, a evitação da dor “per se” não é uma estratégia boa. Não aprender a tolerar e suportar a dor pode nos levar por caminhos muito difíceis.
Isso porque muitas mudanças que precisamos fazer trazem confrontos, exposição, diminuição de ritmo como pressupostos necessários à mudança. Estas atividades podem envolver dor emocional e sentimentos desagradáveis com os quais precisamos lidar afim de conquistar a mudança desejada. Muitas pessoas usam a evitação demais e acabam desenvolvendo uma baixa tolerância à dor emocional ou aos problemas. Deste modo, quando imaginam que podem vir a sentir dor ou que existe algum problema próximo, já se sentem ansiosas ou desmotivadas.
As premissas por detrás deste comportamento são: “não vou dar conta”, “porque isso de novo”, “quando é que esse sofrimento vai acabar?”, “porque as pessoas/mundo são/é assim?”. Desta maneira a pessoa entende o problema como algo muito ruim assim como as emoções que estão associadas à ele. Perspectivas como: “se eu sentir isso não vou conseguir dar conta” são comuns e ajudam a pessoa a se deprimir diante da necessidade de lidar com problemas ou com questões emocionais.
Assim sendo, é importante verificar quais são as premissas que a pessoa tem em relação à dor emocional e ao enfrentamentos de problemas. A percepção negativa deste tipo de situação faz com que ela evite. Porém perceber que nossas interpretações da realidade são apenas isso, interpretações, pode nos ajudar a ter uma abertura para algo novo. Reinterpretar aquilo que pensamos e também reinterpretar nós mesmos nessas situações.
Pois muitas vezes, como já coloquei, a pessoa se percebe como incapaz de sustentar uma emoção negativa e ela não é. Ouço o tempo todo no consultório: “eu não consigo”, que acaba sendo apenas um sinônimo de “nunca tentei”, ou tentei uma vez, não deu certo e eu desisti. Não é que regular emoções duras seja “fácil”, mas não é para ser mesmo. O ponto é que trabalhar em prol disso nos dá força, quando deixamos isso de lado, isso age contra nós mais tarde.
Por fim, é sempre importante não confundir a intolerância que criamos em relação à dor e aos problemas com o fato da dor e dos problemas serem impossíveis de lidar. Este, creio, é o ponto mais importante. Em um grande número dos casos que atendo, geralmente a imagem que a pessoa tem em mente sobre o que lhe aguarda é muito pior do que os fatos em si. Geralmente, a realidade se mostra bem diferente daquelas imagens catastróficas, mas a pessoa precisa confrontar.
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