– Eu não consigo fazer isso!
– Já tentou?
– Não… não dá, eu não sou assim, não sou essa pessoa que para e pensa nas coisas.
– Já tentou?
– Não.
– Bem, eu também nunca tentei escalar montanhas, posso dizer então que eu “não sou uma pessoa que escala montanhas”?
– Não… você nunca tentou.
– Exato, além disso, posso aprender a escalar uma montanha e não gostar disso. Percebe uma diferença?
– Sim.
– Eu sei que você não gosta de pensar em si, mas isso não é o mesmo que dizer que você não pode fazer isso.
– É difícil para mim pensar assim.
– Claro, você passou a vida toda pensando dessa outra forma e conseguiu muitos resultados bons, não foi?
– Sim… embora esse negócio esteja me incomodando, sim…
– Perfeito, o ponto agora é que você pode ir um pouco além nessa discussão e conseguir algo ainda melhor para você.
Umas das formas de nos aprisionarmos em escolhas inadequadas ou comportamentos que não nos são mais úteis é compreender que “somos” nosso comportamento. A partir do momento em que existe uma fusão entre identidade e comportamento, é muito mais difícil realizar quaisquer mudanças.
É óbvio que é o “eu” quem executa uma determinada ação. Dizer, então: “eu fiz isso” é adequado. Porém o eu pode executar muitas ações, inclusive ações contrárias diante da mesma situação. É correto, também afirmar que baseamos nosso comportamento em valores e motivações, porém, estas são percebidas pelo eu e também são mutáveis ao longo do tempo. Por exemplo, o eu de uma pessoa com cinco anos tem motivações e valores distintos daqueles da mesma pessoa com 40 anos. Logo, mesmo levando em consideração os valores o eu pode fazer escolhas diferentes ao longo do tempo.
Quando temos uma situação na qual a pessoa se identifica com o comportamento ocorre o que chamamos de fusão identidade-comportamento. Logo, não é mais o eu quem escolhe agir, o eu é obrigado a agir de determinada forma porque se não o fizer, ele se destrói. É óbvio que essa consequência é terrível e por este motivo, a pessoa não vai se permitir fazer algo diferente do que sempre fez. Ao mesmo tempo é exatamente este o problema: fazer as coisas como sempre fez é o que a levou para este fim.
Dizer, então, que não somos assim, mas agimos assim é um passo importante para tomar nas mãos algo importante para qualquer mudança: o poder de escolha. Quando a pessoa diz: “sou assim”, não há o que possa ser feito, mas quando percebe que ela age de determinada maneira, é possível verificar suas ações, motivações, desejos e até os medos que ela possui da mudança. Com isso a mudança pode ser feita. É comum que a fusão identidade comportamento esteja alicerçada sobre eventos que geram muito medo na pessoa ou sentimentos de impotência, por este motivo ela não se desapega do comportamento.
Perguntar-se “o que estou fazendo?” ao invés de afirmar para si que “é assim que eu faço” é um caminho fundamental para mudar. Porém quando a pessoa está fusionada, ela sente medo de se perguntar isso. A percepção mais tradicional é de que irá perder sua identidade. Porém a identidade não é definida por ter um determinado comportamento e apenas aquele comportamento. Está mais associada com o processo que gera comportamentos do que com os comportamentos em si. Perceber que você é um gerador de comportamentos é uma percepção de identidade muito mais forte do que identificar-se com um comportamento.
Neste sentido, ganha-se força ao invés de perder. A identidade se torna mais forte ao invés de mais fraca. Porque? Pois ao perceber que ela age, amplia a sua capacidade de auto percepção e de ação. Com isso pode ganhar mais força no mundo, no sentido de se adaptar melhor ao que a incomoda. Isso também ajuda a neutralizar o medo que a pessoa sente de ser incapaz. Tentar provar que nosso comportamento “dá certo” a todo custo, pode ser, no fundo a pior escolha, pois não tem comportamento que sirva para todas as situações.